quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Les nouvelles

Cheguei quase agora da rua, passei o dia resolvendo coisas. Pois coincidentemente ou não estou me mudando sexta-feira. Mudanças são sempre bem-vindas e nesta época do ano, então, vêm vitaminadas de esperanças. Estou tão otimista para o próximo ano. Deixa eu explicar a mudança. Irei para um outro apartamento, maior, melhor, mais tudo. Não sei, mas sempre que me mudei o otimismo era renovado no meu ser.

Estou cheia de planos.

Vamos ser todos felizes na nossa nova morada. Tenho certeza. O novo prédio fica perto de um centro espírita que irei freqüentar com mais afinco e quem sabe não passo a fazer um trabalho sistemático lá.

Há oito anos morava aqui. Cheguei uma menina. Acreditava em tantas bobagens na época. Hoje meus valores mudaram muito. Sou mais livre da influência dos meus pais, distanciei-me um pouco deles, uma distância benéfica, boa mesmo. Estou mais livre Tb.

Eita quase que esquecia de mencionar que hoje é véspera de Natal. Como estou às voltas com a mudança e arrumação de tudo, ficarei por aqui. Abdicarei da ceia com a família pra ganhar tempo. Acho que prefiro confraternizar de outra forma.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sensações dialéticas

Fazer Mestrado é uma coisa boa e ruim. Boa porque amplia profundamente a sua visão do mundo, modifica, de alguma forma o seu ser ( tou falando da minha experiência no campo das ciências humanas). Você passa a treinar o olhar analítico, mais filosófico, reflexivo mesmo. E não é uma análise jornalística superficial e vazia não. É bem maior.

Como o meu objeto de pesquisa está no campo das artes, esta postura “metodológica” de avaliar tudo também se refletiu na minha relação com a música, as artes visuais e acima de tudo, literatura e cinema. Acho legal isso. Dá uma sensação boa de consciência e racionalização das coisas. E não estou me referindo ao academicismo exagerado e nem àquela erudição forçada.

A parte chata é que a pesquisa te consome de um jeito inimaginável. Além da dedicação do tempo real, cronológico, há uma ocupação subjetiva que permanece em vc todos os momentos. E quando a gente está na fase de escrever então, é uma coisa louca. Notei que algo, do ponto de vista das emoções e psicológico, foi alterado em mim. Sem contar que vivo numa angústia terrível que mistura medo da banca e o lance do compromisso produzir uma coisa legal.

Como a dissertação, ou melhor, o mestrado está onipresente na minha vida, não pude ler nada que não fosse ligado a minha área. Então, ao invés de romances, contos, poesias e ensaios críticos, que tanto gosto de ler, entraram livros teóricos sobre cinema, literatura. Troquei Guimarães e João Cabral por Ismail Xavier, Sylvie Debs e outros mais. É chato demais isso. Não nego que tenho tesão em ler livros de pesquisadores da minha área, mas o prazer da escolha é bem mais legal. Por isso, uma pilha de livros e uma lista de títulos, que cresce semanalmente, estão se formando em casa para serem contemplados no próximo ano.

Enfim, o blá blá todo foi pra dizer e justificar que não teria como indicar livros bacanas este ano pq simplesmente eles não existiram na minha vida.

Pegou colou

A melhor banda de todos os tempos da última semana é sem dúvida Beirut. Confesso a minha ignorância e afirmo que conheci o grupo por causa da minissérie da Globo. Podem atirar pedras os mais radicais. :P

Ouvi, apaixonei-me, baixei os CDs, EPs e tudo mais e agora sou a fã mais ardorosa desses americanos. (Tá vendo aí? Os States ainda conseguem produzir coisas muito legais).

Som neo-folk, com letras que grudam. Formação com instrumentos que te remetem a outra dimensão anacrônica, algo tipo, outra encarnação mesmo. Impossível não ter simpatia pela sonoridade deles.

Não sei se toda vez que os escuto lembro-me de Capitu ou talvez lembro-me de Luiz Fernando Carvalho e por isso a interação e fruição diante da música do Beirut vem de graça pra mim. Foi uma grande descoberta que deixou o meu dia mais feliz.


Brincando de ser tosca

Continuarei falando do CCS. Ouvi-los é uma aventura boa. Sabe por quê? Você se exime da culpa de ouvir algo da grande indústria, sim por que eles têm um elemento descompromissado forte que pressupõe alguma coisa. A batida eletrônica, somada às letras bizarras também tem um efeito positivo. Na realidade, é bom ouvir o sexteto na night ou em festinhas domésticas, pois pela puerilidade do som e das letras não dá pra curtir no nada, entende? Tipo, sentar pra ouvir não rola.

O que eu mais gosto é que eles fazem música sem nenhuma pretensão de ser brazuca. Sem aquela mesmice de evocar os Mutantes ou algum clássico do cenário eletrônico. Ser aquilo mais do mesmo. O conjunto da sonoridade deles é o oposto disso. Criatividade é um dos pontos fortes. Neste sentido, a letra de Art Bitch aponta um pouco pra isso: “I ain't no artist/ I am an artbitch/ I sell my paintings to the men I eat/ I have no portifolio/ and I only show/ Where there's free alcohol”. Sem preocupações artísticas, sem propostas estéticas vazias. Eles são feito aquelas relações que começamos sem expectativa, sem esperar nada, e de repente nos surpreendemos.

A mis en cene deles também é bacana. Como falei no post anterior. Tiração de onda, brincadeira. O look da galera é instigante. O clima descontraído não está apenas nas letras, é transmitido também no palco.






Continuando a série dos melhores do ano. Melhores discos:

Little Joy
Acabou Chorare (relançamento dos Novos Baianos)
Mallu Magalhães

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

CCS

Cansei de Ser Sexy, ou melhor e mais atualizado, CSS é uma bandinha fashion paulista bem bacaninha que conheci faz um tempinho e que voltei a escutar este ano. Gosto das batidas eletrônicas e da pegada rock, mas a melhor coisa são as letras bizarras e que tiram onda com tudo. Adoro.



Tenho três desejos de consumo no momento:
1) Assistir ao filme Pan cinema (sobre Wally Salomão)
2) Comprar as poesias completas de José Paulo Paes
3)Comprar o livro com textos de Ana Cristina Cesar


Estou me devendo um post sobre a minissérie Capitu.Preciso pagar, ou melhor escrevê-lo.

Faltando alguns dias pra terminar o fatídico 2008, iniciarei a série os melhores do ano.

Melhores acontecimentos

1º Viagem em julho com os amiguinhos
2º Chegada de Nara, minha gatinha
3º Enapa
4º Promoção no trabalho


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Ctrl c + Ctrl v: Euforia pré-show

Esse texto não é meu. Saiu na FSP, dia 1º de dezembro. Acho que elas conseguiram traduzir as minhas sensações, ou seja, de uma fã com euforia pré-show.

DESDE PEQUENAS, uma euforia pré-show toma conta de nós quando algum evento muito importante se aproxima. Podia ser o Papai Noel de helicóptero sobrevoando o Maracanã ou o Rock in Rio 1, a que nossos pais nos levaram. E também o Rock in Rio de 2001, quando já éramos grandes e fomos sozinhas. (Atenção, se você está achando a gente velha, tudo bem, mas pense que, com o tempo, a gente acumula milhagem em shows vistos, o que é ótimo.)

Mas recentemente tivemos poucas experiências assim. Não que a gente não tenha surtado quando viu o Iggy Pop ao vivo. E não que uma de nós não tenha praticamente virado outra pessoa no show dos Beaties Boys. Mas há tempos não nos preocupávamos com ingressos histericamente e não sentíamos um frio na barriga que.. bem.. só é causado por ela, nossa querida EPS (euforia pré-show).

Até que na semana passada tudo mudou. Voltamos a sentir uma sensação estranha no corpo, a boca seca, e a falar várias vezes por dia a palavra ingresso com o fanatismo de um bofe em dia de final do Brasileirão.Tudo porque foram confirmadas duas datas de shows do Radiohead no Brasil: dias 20 e 22 de março. A euforia foi tanta que até começamos a combinar com amigos de ir para a fila antes do horário de início da venda dos ingressos, onde ficaríamos espremidas em um bolão e seríamos entrevistadas por um repórter do Folhateen que faria uma matéria sobre os "malucos que dormiram na fila do Radiohead". Desistimos dessa hipótese depois de pensar nesse mico.

Sim, vai vender pela internet, mas achamos que o site vai dar pau e ficamos muito nervosas.O mesmo nervoso que vimos os amigos fãs da Madonna passarem, enquanto ríamos do alto de nossa majestade de "garotas que não estão nem aí para a Madonna". Agora sabemos o que eles sentiram.

Sim, essa euforia pré-show é uma coisa quase incompreensível pra quem não é do rock. Nunca fomos numa micareta, mas achamos difícil acreditar que alguém fique com tanta expectativa para um show do Asa de Águia. (CONCORDO DEMAIS COM ESTA COMPARAÇÃO)





Librianizando o Natal

O Natal tá chegando e eu ainda não me dei conta. Já fui a confraternizações, ou seja, engordei horrores, já recebi o 13º, mas mesmo assim, a ficha não caiu. Não fui contaminada pelo clima do bom velinho, apesar das luzes nos prédios, nas fachadas e nas praças insistirem em aparecer.

Talvez seja a minha formação marxista que sempre liga a data ao consumismo ou talvez meu espiríto esteja imune temporariamente às convenções. De fato, há alguns meses a dobradinha: mestrado e trabalho tem me tirado do sério.

Voltando ao Natal, esta época evoca em mim uma necessidade de balanço, de retrospectiva,... Como boa libriana que sou, gosto de racionalizar, avaliar, medir tudo e neste período as coisas ficam mais afloradas. Por isso, às vezes me recolho, fico na minha, reclusa no meu mundinho cor de rosa. Depois, ah depois, depois vai ser só festa. Casa nova, planos novos e quiçá rumos novos.

Em tempo: Eu nem toquei no assunto pelo aspecto religioso né? Aí sim, teria muito o que falar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Bienal da vergonha

estão todos falando da polêmica da prisão da pixadora em São Paulo. Existem várias perguntas em torno do fato e acho que elas são bastante pertinentes.

1º A pixação é crime ou forma de manifestação?
2º Até que ponto a polícia, ou melhor, a Justiça tem ingerência sobre as ações artísticas?
3º É lícito deixar uma jovem presa por quase dois meses sob a acusação de violação do patrimônio público?
4º A grafitagem é uma atividade artística?
5º Até que ponto a interatividade e relação do público com a obra de arte era uma atividade legitimada na 28º edição da Bienal?

Como vocês devem ter percebido, pelas minha proposições, o meu posicionamento em tal questão é bastante contrário à postura da polícia, da Justiça e, sobretudo, da curadoria da Bienal. Há muitas coisas implícitas na prisão e manutenção de Carolina Pivetta na cadeia. Acho que a grafitagem é uma manifestação artística contemporãnea e, portanto, a ação da jovem paulista não deve ser compreendida isoladamente e sim como uma resposta e provocação ao modelo e direcionamento político-cultural da Bienal. Neste caso, a própria proposição da Bienal, que havia colocado um espaço em branco, pode ser compreendida como uma possibilidade de interlocução com o público.

O que mais me admira é o silenciamento da curadoria, das entidades e pessoas envolvidas na questão da arte visual no Brasil. É espantoso, que um setor da sociedade considerado tão de vanguarda, no caso, as artes, fique à margem de toda a discussão e desdobramentos que o fato teve e terá.

A prisão também tem a possibilidade de outra perspectiva como, por exemplo, o que é considerado manifestação artística contemporânea e, sobretudo, como as bienais, museus e galerias ainda trazem consigo a aura medieval mesmo com toda a dessacralizaçaõ já colocada por Duchamp há quase 100 anos. Lamentável demais.

Ainda não li o artigo do Paulo Herkenhoff. Tenho certeza que ele, um dos meus críticos de arte preferidos, vai iluminar ainda mais a questão.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

lombrices

os finais de semana podem soar um pouco dolorosos para quem está solteiro. é sempre difícil encontrar-se, eu sei, mas o exercício solitário da reflexão especular é bem interessante. acredito que não devemos nos furtar de viver isso, pois o traçar da nossa auto-imagem diante do espelho é valioso para que saibamos no encontro com o outro onde começamos e, sobretudo, quais as nossas formas e traços, sejam eles físicos ou psicológicos. no entanto, como este caminho não é obrigatório, muitos preferem abandoná-lo mesmo sem experimentá-lo. preferem fugir, de alguma forma, caindo naquele velho esquema de festas intermináveis e saídas obrigatórias de final de semana. eu proponho o contrário, sugiro a todos a possibilidade do enamorar-se no sentido mais singelo e profundo. como naquele breve momento que, tal qual o primeiro esboço de sorriso de um recém-nascido, temos consciência de nós mesmos.

This Is Not A Love Song

A vibe agora é colocar som em festinhas alheias. Acho que aquele setlist que preparei para a festa francesa agradará bastante. Vamos ver. Bacana brincar de DJ, observar a galera se divertindo, divertir-se e perceber o impacto da música nas emoções do povo. Tem setlist pra vários tipos de festa, das mais comportadas com um público mais velho às mais descoladas para uma galera meio indie. Agora tem uns sons que não podem faltar em nenhuma festa: Amy, Fernanda Porto e uns remixes que fiz da Nina Simone. O bom, não, o melhor é que é tudo de brincadeira sempre. Sem compromisso de nada. Só pra confraternizar.

Falando em música, eu queria tanto que todo mundo conhecesse Cat Power, Nouvelle Vague, Belle & Sebastian e outras... Conhecê-los iria fazer estas pessoas melhores, tenho certeza.


quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

ela 16, ele 30. e daí?

tá todo mundo falando do namoro da mallu magalhães com o marcelo camelo e eu que adoro uma fofoca vou me posicionar. sim, pq como boa brasileira que sou é mais fácil eu emitir minha opinnião sobre a relação dos dois cantores, sobre os rumos da novela das oito do que sobre as decisões políticas de lula e, sobretudo, as decisões da sua equipe econômica.

mas voltando ao assunto, confesso que tenho uma certa propriedade pra falar do assunto, pois já namorei carinhas mais velhos, ops bem mais velhos que eu. há um tempo namorei sério um cara que tinha, digamos, uns vinte anos a mais que eu. foi o meu máximo. mas vamos à questão: o que provoca o incomodo? o fato dela ser adolescente e ele adulto? o fato dele ter uma história profissional que ela não tem? ou fato da relação pressupor a experiência sexual que talvez ela não tenha? de fato, eu fico incomodada com estas especulações, pois todas estão baseadas em mitos e em falácias.

o namoro entre pessoas de idades diferentes é algo encantador e para mulher dá uma imensa segurança, pois pensamos que por ser adulto e ter vivido mais experiências ele não correrá o risco de cair em algumas armadilhas adolescentes como a instabilidade emocional, por exemplo. mas em contrapartida, talvez essa seja outra falácia. se a mulher for mais madura, mesmo sendo mais nova, vai ser bom também pq ela poderá ter a possibilidade de experimentar conviver afetivamente com um cara que estará na mesma vibe.

a parte delicada é que o cara mais velho traz histórias, muito maiores que ela, e que nem sempre formam o tal saldo positivo. ele também estará em outro momento da carreira profissional e neste caso, será importante ter uma certa compreensão de ambas as partes para sacar as nuances deste detalhe, como por exemplo, salário maior, ou então mais tempo de ralação mesmo, já que se está começando. qto à questão sexual, talvez, seja um ponto positivo, pois a condição de aprendiz beneficiará tanto a um qto a outro. um por se sentir mais seguro, sendo o professor e tal. o outro por poder desfrutar desta experiencia.

há que saber tb que ele pode trazer filhos e ex-mulher e se a gente não tiver predisposta a viver a história esses personagens acabam tornando-se ônus muito caros.

agora pra se viver um amor que de certa maneira foge dos padrões é preciso estar em sintonia, ter parceria não só física como emocional. tem que ter tb muita disposição para compreender o outro e isso é uma mão dupla. teria tanta coisa pra falar, mas acho que a esta altura torço para camelo e mallu, torço pela vitória das relações, das paixões, do romance.

voltarei pra falar de camelo depois.

em tempo: post inspirado depois de assistir ao vídeo no blog de carool.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

atenção: cuidado com as fontes

as festas de final de ano, os planos para 2009, a preguiça de final de ano, as confraternizações... tudo colaborando para eu não postar em dia. mas pra não me acusarem de abandono. hehehe.

eu sou uma eterna admiradora e deslumbrada por todas as possibilidades que a internet traz, mas tem uma coisa que realmente me incomoda na web, ou melhor, no correio eletrônico, são os textos atribuídos a pessoas que não os escreveram. existe um verdadeiro compêndio de textos de drummond, fernando pessoa, clarice lispector... não precisa ser especialistas nestes autores para sacar que os ditos textos não são de suas autorias.

o mais bizarro nisso tudo é que as pessoas passam a apropriar-se destes falsos textos em seus orkuts, distribuindo-os para seus contatos na net e achando que estão dando pinta de inteligentes e intelectuais. tenha dó. quem conhece clarice sabe que ela não ia se ocupar em escrever definições bobas, de auto-ajuda. ao contrário, sua escrita revela uma densidade profunda, cortante até mesmo nas coisas prosaícas. a mesma coisa drummond que tenho certeza que não falaria do amor com o tom da pieguice, de lugar comum. então, quando quisermos utilizar os nossos escritores é melhor irmos à fonte, ou seja, suas obras, para não cairmos no conto do vigário e proclamarmos a ode aos textos falsos.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

New Orleans não saí de mim

tou numa fase totalmente jazzística, então neste momento eu deveria estar em New Orleans flanando pelas ruas de Bourbon Street's . Ficaria lá até o Jazz Festival. Mas antes curtiria o Mardi Gras durante o carnaval. Todas as noites sairia com meu amor pra ver uma galera tocando. Nesta época alguns nomes estariam de passagem pela cidade: John Coltrane, Miles Davis e Chet Baker. Coincidentemente eles são meus favoritos. Era pra ser sobre jazz, mas acabou virando ficção.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Março com Thom Yorke

agora é oficial: Radiohead confirma shows no Brasil em 2009 e quem falou foi o Thiago Ney, repórter de música da Folha de São Paulo. Façam suas apostas pq qm mais vai sou eu. Contagem regressiva começando.

notícia boa pra alegrar o dia. ;)

Segue a matéria da Folha Online explicando tudo.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u472214.shtml

síndrome da mestranda pré-banca

no próximo ano depois que eu me livrar do meu encosto, ou seja, a dissertação, tenho muita coisa pra fazer: lista de livros pra ler, filmes pra assistir, lugares pra conhecer e principalmente preguiça boa pra curtir. tá chegando ao fim, tenho fé. aí, vai ser tudo de bom.

nunca pensei que um mestrado fosse tão assustador. sei lá, mas a responsabilidade de estar lá, de escrever coisas legais, de ser criativa tem um peso enorme. quando entrei achei que ia ser moleza pois nos últimos quatro anos tinha me dividido entre duas faculdades simultaneamente. mas não é e não foi light fazer mestrado e trabalhar não. foi punk rock. fora que experimentei uma sensação aguda de burrice crônica pelo que não tinha lido. em letras já era uma coisa meio assim, a gente sempre ficava com a impressão de que nunca ia chegar a ter a erudição de fulano ou dos nossos colegas e tal, mas agora o negócio é ainda mais sério, pois somos todos profissas.


enfim, como sou sádica demais vou continuar me fudendo na academia por pelo menos mais uns quatro anos, no mínimo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

coeur vagabond

o ceur vagabond fez um mês de existência!!!! éeeeeeeeeee. vida longa pra ele.

pra entender um pouco mais do universo que envolve estas bobagens escritas aqui, basta prestar atenção a esta música:






Ipod

Sabe o que toca infinitamente no meu Ipod? Nina Simone. Sabe por que? Pq ela mudou a minha vida. Definitivamente. Não tenho a menor condição de falar nada sobre ela, me sinto burra e qq coisa que eu disser vai parecer medíocre, raso,...

Por mais nacionalista que eu seja, depois de conhecer Nina Simone não posso me furtar de dizer que a música americana, especialmente o jazz e o blues, é a melhor de todas.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Arrependimento

Puta merda! Era pra eu estar no show de Mercedes Sosa agora. Desde que a conheci há uns dez anos fiquei com vontade de vê-la no palco. Aí, ela vem a minha cidade, fato raro de acontecer, e eu lisa como sempre não dei R$ 150 pra ir ao show. Eu devia era ter entrado no cheque especial pra comprar o ingresso. Puta merda!

Conheci La Negra através de Milton Nascimento, gostei da voz dela e só tempos depois foi que soube da sua atuação política. Depois de saber disso, passei a admirá-la ainda mais. Gosto do timbre da sua voz, do seu repertório e pude através dela conhecer o trabalho da multiartista chilena Violeta Parra. Quem não a conhece não sabe o que está perdendo.

Espero assistir Mercedes Sosa em breve e de preferência em Buenos Aires.


É por Mercedes Sosa, Borges, Cortázar, Lucrécia Martel e outros que gosto demais da Argentina.


Acho um pouco bom

hoje o que eu mais queria era ficar em casa o dia todo pra escrever a danada da dissertação. Mas terei que ir a m... do trabalho à tarde. Acho que não dá pra conciliar o meu projeto de ser uma boa aluna com as demandas pequeno-burguesas. :)
Então essa música da Cansei de ser sexy diz tudo. Depois eu volto pra falar da banda.




sábado, 22 de novembro de 2008

Belle & Sebastian

Era pra eu continuar o post sobre a causa da acessibilidade - ainda não cheguei onde queria, mas como não sou nem um pouco organizada vou falar de Belle & Sebastian.

Conheci de perto a banda há pouco tempo e confesso que no momento é o meu grupo preferido. Considero as letras fofas e a sonoridade bem interessante. Gosto da formação numerosa do B&S com sete músicos fixos e sempre mais alguns de apoio. Outro detalhe é a mistura de violino, com guitarra, bateria, trompete e teclado, tudo isso com uma influência que mistura rock com soul e umas pegadas nórdicas e tal.

As impressões que tenho quando ouço o grupo escocês são as melhores possíveis. As músicas aludem a um sentimento bobo a uma coisa bem adocicada mesmo. Lembro que uma amiga me disse que escutava B&S quando estava stressada, comecei a fazer isso também e hoje estes escoceses também surtem um efeito terapêutico na minha vida. Tenho todos os CDs do deles e já gravei a discografia pra várias amigas. Virei bellemaníaca.

Os álbuns que mais gosto são Tigermilk, Jonathan David e You are feeling sinister. No entanto, o que mais escuto é um cd gravado em Tokyo em 2001. Esse foi inclusive o ano que eles estiveram no Brasil – vieram participar do Free Jazz Festival. Eu não fui ao show, portanto, espero encontrá-los ao vivo rapidamente, apesar de saber que desde de o final de 2006 eles não fazem apresentações.

Termino com as considerações do Álvaro Pereira Júnior, da Folha de São Paulo, sobre a banda: Um mundo onde o cordeirinho e o leãozinho são amiguinhos. Onde todos dançam alegres, em fofura comunal. Onde não existe a guerra, só o amor, o amor. Belle and Sebastian, a banda escocesa, (...), vive em um lugar assim". (FSP, outubro de 2001)

DUAS DAS MÚSICAS DELES QUE MAIS AMO:

If you're feeling sinister




There's too much love

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A causa de acessibilidade - parte I

Desde sempre achei que devemos nos engajar em alguma coisa, por diversos motivos: por sermos seres políticos, por vivermos num país pobrinho, por sermos privilegiados economicamente, por termos oportunidades, enfim... Então, quando vejo e encontro pessoas que fizeram da sua experiência pessoal uma causa coletiva acho maravilhoso.

Foi pensando assim e com o ímpeto de mudar o mundo, que só a adolescência nos proporciona, que envolvi-me num projeto bem bacana há oito, nove atrás. Era a época do meu vestibular e pela primeira vez na minha vida as coisas não tinham saído como eu esperava, ou seja, não passei no vestibular de Direito como pretendia. Diante do baque e com a ajuda da minha mãe, pensei o seguinte: se para mim que sempre estudei nos melhores colégios e sempre tive acesso aos melhores produtos da educação era difícil, imagine para quem vem de escola pública?

Foi naquele momento que pensei que a minha derrota (sim pq aos 17, 18 anos o seu grande sonho na vida é entrar na faculdade) poderia ser sublimada e proveitosa se eu a transformasse em algo bom para outras pessoas. Foi assim, que eu e uma amiga, que havia passado três anos no martírio das reprovações do vestibular, decidimos criar um cursinho pré-vestibular gratuito para os alunos de baixa renda (a maior parte era de escola pública e tinha renda familiar de um ou no max dois salários mínimos) do nosso bairro. Instalamos o cursinho no centro espírita que freqüentamos, chamamos nossos amigos para serem professores e em menos de um mês estávamos inscrevendo os nossos novos alunos. Eu dava aulas de Literatura. Havia uns 12 professores e uns 25 alunos. Rapidamente criamos um grupo tão coeso e fraterno que muitos daqueles alunos são meus amigos até hoje. Nós éramos jovens, burgueses e idealistas. Nunca havíamos dado aula de nada, mas tínhamos um envolvimento tão grande com o projeto que tenho certeza que a nossa imaturidade não influiu de forma nenhuma na qualidade do cursinho.

Como eu era a que morava mais perto do local, fui nomeada coordenadora do grupo. Fazia de tudo, ligava para os professores, tapava buracos, organizava as reuniões. Os nossos professores eram muito bons. Lembro de alguns que, impossibilitados de dar aulas durante a semana por causa da faculdade ou de outros compromissos, vinham dar aulas aos domingos, às 8h e o mais impressionante de tudo era que os professores deste dia moravam a 25 km do local, ou seja, cruzavam a cidade para chegar.

Foi durante aquelas aulas que descobri e confirmei a minha vocação para sala de aula e que em vez de Direito e Jornalismo, deveria fazer Letras e Jornalismo. Isso foi um dos maiores acertos da minha vida. Nas aulas eu também aprendia muito. Aprendia sobre o mundo vizinho ao meu, mas que era completamente desconhecido aprendia sobre tudo. Crescia demais. E eles nos agradeciam pela possibilidade de sonhar com uma universidade e diziam-nos que eles iriam multiplicar aquela experiência.

Hoje parte deles está se formando ou já estão formados. Passaram na Universidade Federal de Pernambuco, são biólogos, assistentes sociais, historiadores, pedagogos, contadores e artistas plásticos. Tenho orgulho de todos. E falo sobre isso pq sei que eu e aqueles professores fomos pequenos instrumentos diante da vitória que significou a profissionalização na vida deles e, sobretudo, que nosso ganho pessoal foi muito maior.

Talvez poucas pessoas imaginem a dimensão daquela época pra mim. Mas tudo ali, mudou definitivamente a minha existência.

P.S. 1: No ano da fundação do GEP (Grupo de Estudos Pestalozzi, que tinha tb como slogan: ampliando horizontes) eu passei em Letras e Jornalismo. Foi o ano que menos estudei na vida, pois dedicava-me integralmente ao GEP.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Qual a sua relação com o cinema?

Diversas vezes polemizo com algumas pessoas próximas quando elas me dizem que cinema é apenas entretenimento. Para mim não é. Pq acredito que a experiência que temos com a sétima arte vai muito além da pura diversão. É algo único e de alguma forma transcendente. Portanto, não me chamem para assistir besteiróis americanos ou dramalhões estilo novelas mexicanas. Posso até assistir a estes filmes em casa de bobeira, quase inconscientemente, sonoletament, mas na sala escura nunca, jamais.

Até entendo de alguma forma esta proto-compreensão que os espectadores têm do cinema. Sendo a arte cinematográfica filha legítima da sociedade burguesa moderna é natural que a atrelemos como algo ligado exclusivamente à diversão. No entanto, a construção de códigos e linguagens específicas fez com que o cinema subverta a lógica dos meios de comunicação de massa, portanto, a possibilidade de fruição que existe diante de um filme pode ser muuito mais interessante do que supomos. Neste sentido, há alguns filmes que são emblemáticos nesta tentativa de possibilitar experiências artísticas. De cara, poderia citar um monte, mas que tal Acossado, Band a part, A chinesa? Claro que os títulos são todos godardianos pq ele é a síntese desta proposta de cinema-experiência. Mas há ainda outros filmes que são interessantes e que vão nesta direção: gosto de cereja e irreversível. Cada um de um modo diferente. No entanto, eles não são emblemáticos pra mim, considero-os apenas interessantes, nada mais.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Boas novas

O som da Mallu Magalhães foi umas das coisas mais bacanas que descobri nos últimos tempos. Ouví-lo me remete ao tempo da esperança, dos sonhos e, sobretudo, da inocência. Época em que brincava de Jogo da Vida, casinha de boneca, escolinha e todas as noites saia de casa pra correr na rua com as minhas vizinhas. Foi uma época boa. Não voltará jamais. Então, quando deparo-me com uma musicalidade tão pueril, tão singela fico com aquela impressão de que apesar de tudo, ainda há esperanças.

Gosto da pegada new folk dela. Tem também o lance dela ser parceira do Marcelo Camelo que tb considero um grande compositor e músico. O timbre da voz dela diz tudo: há uma doçura no ar. Talvez ela mude com o passar do tempo, mas as minhas sensações diante das suas músicas continuarão as mesmas.

Em tempo: tento conhecer a produção das novas gerações pq senão fico totalmente out entre as adolescentes que converso. Também gosto de ouvir coisas novas pq sempre surgem grandes surpresas como a Mallu Magalhães.


domingo, 16 de novembro de 2008

domingo

vivendo um clima de romance e devorando um pote de sorvete de graviola. tem coisa melhor?

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O Radiohead vem aí, eu vi

A notícia do show do Radiohead aqui no Brasil que vi ontem no site do grupo (http://www.radiohead.com/tourdates/) deixou-me muito contente. Quando vi na segunda-feira que eles viriam para o Chile, pensei em voar pra lá, mas preferi esperar. Essa banda inglesa desperta algo em mim que não sei explicar. Uma coisa meio transcendental mesmo. E os vocais de Thom Yorke me levam ao nirvana.

Confesso que estou numa fase totalmente Radiohead e na última semana coloquei todas as músicas de In Rainbows no meu ipod. Muito bom este álbum. Pra mim ele está só um pouco abaixo de Pablo Honey, Ok Computer e Kid A. All I need e Nude são as duas faixas que mais me chamam atenção. Além das músicas, gostei também da estratégia de lançamento do disco, que deixava livre para os internautas o preço do valor que devia ser pago para o download das faixas.

Tenho amigas que quando entram no meu carro e escutam Radiohead dizem que o som da banda deixa deprimidas. A música deles me remete a outras sensações, bem distantes da depressão. Thom Yorke e Cia. pra mim são perfeitos com seus acordes dissonantes, suas experimentações e letras cool. Não sei, mas por tudo isso, acho que pra minha geração, ou seja, aqueles que nasceram nos primeiros anos da década de 80 e começaram a consumir música na metade da de 90, o Radiohead fala muito mais do que Madona, mesmo sendo ela um ícone pop e tal. Gosto da Madona, mas vou pro show Radiohead.

O Radiohead lembra-me a Alemanha e o cosmopolitismo de Berlim. Às vezes, esqueço que eles são ingleses.Na verdade, ligar o grupo aos germanos deve-se ao fato de eu ter conhecido a banda na época que me apaixonei por um alemão que foi morar no meu prédio. Era 2003/2004 época de Hail To The Thief e There, there foi a nossa música. Nunca havia me envolvido por um estrangeiro e aquela paixonite tinha grandes contornos de exotismo e curiosidade. Foi tudo muito curto. A partir deste flerte passei a ver a Alemanha com outros olhos, comecei a estudar alemão e a sonhar em morar lá. Quando ele foi embora, chorei horrores. Vivi a maior fossa, detalhe: sem nunca tê-lo beijado. Esta é a melhor parte. J



quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Losing my religion

tudo me compele a São Paulo.
Bienal,
mostra na cinemateca
REM


terça-feira, 11 de novembro de 2008

A literatura como militância

Falar de Literatura nos dias de hoje pode parecer uma coisa desproposital, fora de moda. Cada vez mais sinto que as novas gerações estão distantes do universo literário. E, aqui, considero exclusivamente a arte literária, algo como alta literatura mesmo (apesar de achar este termo muito problemático). Então, neste caso, estão fora os blockbusters literários, livros de auto-ajuda e novas ondas do mercado editorial.

Compreendo que o momento histórico é outro e que as tecnologias da informação possibilitaram um novo tipo de relação com o texto artístico, modificando também a aura da literatura. Portanto, acredito que defender a Literatura na contemporaneidade é uma atividade política, uma militância. Lembro neste sentido, que me sentia exemplarmente engajada quando falava aos meus alunos sobre a arte literária, com suas especificidades, riquezas e escritores geniais.

Eu tentava passar pra eles minha paixão e todas as emoções que vinham dela. Eles eram burgueses (a Universidade era Federal, grande concentração de renda e tal) e haviam nascido nos últimos dois anos da década de 80. Em alguns momentos sentia uma certa resistência entre os estudantes de publicidade que acreditavam presunçosamente que a publicidade era superior a todas as outras expressões. Outros de jornalismo e radialismo também resistiam um pouco, talvez pq para eles a internet e o cinema eram superiiores também. No entanto, em vários momentos ficava profundamente tocada quando percebia em cada expressão o detalhe que revelava a curiosidade e o encantamento diante do texto. Em uma das aulas, cheguei a chorar quando vi que a poesia expressa nos textos de Raduan Nassar tinha de alguma forma modificado o contato daqueles alunos com a Literatura. Era Lavoura Arcaica. Foi lindo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

reflexionices

queria ser mais leve, menos racional. ser como algumas pessoas que conheço que não se submetem a reflexões existênciais pelo simples fato de que para elas tudo o que se apresenta explica-se sozinho sem metafísicas ou divagações. admiro essas pessoas que conseguem educar seus filhos, viver suas vidas, seus amores sem pensar, sem tentar ver algo extra alguma coisa. eu não consigo ser assim. sou racional, reflexiva, tento ver tudo com alguma profundidade, alguma relevância pseudo-filosófica. não que eu consiga ser assim sempre, mas algo em mim me compele a isso. depois que fiz o mestrado então, aí é que passei a ser ainda mais "análitica". hehehe. mas há momentos em que não dá pra ficar teorizando, refletindo né? mas confesso que o peso da proto-densidade é extramamente prazeroso pra mim.

domingo, 9 de novembro de 2008

pseudo-musicologismos

vivi duas experiências musicais na última semama: o concerto da Osesp e o filme Saravah. No primeiro pude perceber de perto o virtuosismo de uma orquestra com 120 músicos (aqui no Recife só estavam 105). Era tudo tão perfeito que confesso que ficava procurando em alguns momentos um erro, uma entrada sem sincronia, uma nota errada e tal. Mas não aconteceu. Gostei do programa também. Teve Camargo Guarnieri, Verdi e Mahler. Teve também Clóvis Pereira - a parte mais emocionante para o público pernambucano, pq o Clóvis estava na pláteia. A Osesp sempre foi uma grande referência pra mim. E segundo os críticos, é a orquestra mais importante da América Latina. Em vários momentos durante o concerto emocionei-me e nem sei o motivo. Nem conheço muito música clássica assim, mas fui tocada. Durante o espetáculo tb lembrei-me dos tucanos, especialmente Mário Covas e FHC, que têm um certo envolvimento com o projeto Osesp e tal. Nisso aproximo-me deles, já o resto... Agora o Jonh Neschling merece um capítulo especial nas minhas observações: lembrei de cara das acusações que giram em torno da sua administração à frente da orquestra (lembro ter acompanhado toda a polêmica pela Folha há um tempo). Também pensei na Patrícia Melo, sua esposa, e no seu livro Valsa Negra que dizem as más línguas ser um pouco inspirado no universo do marido e no próprio regente. Pensei: será que ele vilão? Será que é mocinho? Torço pra que ele seja vilão, prefiro os gauches. Neschling é o cara.

A outra “experiência” musical foi assistir Saravah no sábado passado, dia 1, durante a a mostra. Sei lá, quando a gente vai mostrar a outras pessoas uma música, livro ou filme que vc é apaixonado fica sempre aquela sensação meio estranha de saber se o seu tal obj. de veneração tocou tanto o outro como toca vc. No caso de Saravah, nem gosto tanto do filme assim, mas aqueles personagens são muito significativos pra mim. Aí, perceber que no meio da sessão as pessoas estavam tão envolvidas pela proposta que cantavam junto foi bem tocante pra mim. Fiquei comovida. Mas voltando ao filme, depois de assisti-lo fica aquela sensação de que nasci na geração errada ou que aquela geração era bem melhor. O filme é um documentário de francês, Pierre Barouh, que, encantado pela Música Popular Brasileira, vem ao Brasil filmar ícones como Bethânia (que aparece linda, supernovinha), Pixinguinha, João da Baiana e o lindíssimo Paulinho da Viola. Então, a partir do encantamento e da possibilidade de conhecer a nossa MPB ele senta com a galera no bar, toma cerva e aí os nossos orgulhos nacional começam a cantar lindas canções. Tudo tão lindo, perfeito. Referi-me apenas à música, pois o filme tem lá minhas ressalvas.


Eu sempre fui muito atraída pela música, tudo como leiga, claro. Na música não consigo racionalizar nada. Apenas sinto e ela me faz tão bem. Tenho uma música pra cada momento da minha vida, cada paixão, cada sensação. Para os meus últimos amores, por exemplo, dediquei silenciosamente canções da banda Nouvelle Vague e Belle & Sebastian, respectivamente. Tive um namorado antigo que depois de acabarmos tive que suspender temporariamente do meu Ipod Zeca Baleiro e Vanessa da Mata, pois ouvi-los me fazia reviver cada frase, cada gesto que àquela altura soavam-me extremamente doloroso. Hoje, retomei o Zeca e abandonei a Vanessa.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Nas coxas também é bom

Há um tempo tenho feito as coisas de uma maneira que está bem distante do meu ideal. Tudo muito corrido, sem tempo para ser perfeccionista ou para ser melhor. Parte disso tudo, devo a mim pela minha incapacidade de dizer não e pela minha falta de habilidade em organizar melhor meu tempo.

Lembro, por exemplo, que há dois anos, quando conclui o curso de Letras, tive que fazer a monografia final em um mês praticamente. Loucura total. Agora tenho uma qualificação para até o final do mês e neste caso terei que escrever...umas 40 páginas.

Vai ser nas coxas né? Agora, apesar de tudo, nas coxas também é bom. Como falava um ex-chefe meu: dá prazer e faz menino. hehehhe

domingo, 2 de novembro de 2008

no batente

final de semana trabalhando. engraçado né?
sexta, sábado e domingo de plantão e sem direito a folga na segunda. hehehe.
adoro.

quem mandou brincar de ser curadora de cinema. mas no fim, depois de tudo, dá um baita prazer.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O dia que conheci Chico Buarque




Aos onze anos, num dezembro qualquer da década de noventa, gravei no rádio gravador do meu avô um especial com músicas de Caetano e Chico. Naquela época, esses nomes não me diziam nada. Talvez eu já os tivesse ouvido em alguma conversa musical dos meus pais, mas não lembro de os ter conhecido. Recordo-me que por falta de opção a gravação foi feita numa fita antiga que vinha com o Meu Primeiro Gradiente, aquele gravadorzinho que fazia karaokê e era vermelho. Tempos depois, deparei-me com a fita e tudo mudou.

Não sei explicar, mas ouvir Caetano com sampas, chuvas, suores e cervejas, leaozinhos, odaras... e Chico com as bandas, cálices, trocando em miúdos modificaram-me definitivamente. Naquele momento, o senhor dos olhos ardósia me cativou mais. Fiquei apaixonada.

Consegui com um vizinho mais velho todos os seus LPs e aos poucos ia fazendo a minha audioteca buarqueana. Colecionei quase todas as músicas. Juntei o dinheiro que meus pais me davam para o lanche e comprei por telefone uma biografia do compositor de Samba do grande amor. Lembro que por essas coincidências da vida, o livro de capa bege chegou no dia 19 de junho. Rapidamente devorei o livro e virei uma fã incondicional. Estava no início da adolescência e escolhi o Chico para ser o meu ídolo. Sonhava, suspirava por ele. Recortava suas fotos que encontrava nas revistas, fazia o meu dossiê CB. Sabia quase todas as suas músicas decoradas e elegia cada uma delas para certos momentos da minha vida. No entanto, havia uma composição que eu jurava de pés juntos que ele tinha feito pra mim: Sentimental.

Meus amigos e minha família sabiam daquela paixão pueril. Meus pais orgulhosos, de alguma forma, alimentavam-na. Falar de Buarque funcionava pra mim como um passaporte para o mundo dos adultos. Eu era considerada mezzo prodígio, mezzo estranha por idolatrar um cara que não era da minha geração.

Um dia, ele veio ao Recife. Era a turnê de As cidades. Fiquei completamente inebriada com a sua presença física a poucos metros de distância. Estava de férias no interior e viajei 130 km para assisti-lo. Como fui feliz aquela noite. No outro dia chorei horrores, pois as fotos que havia tirado queimaram.

Hoje revivendo este encontro afirmo que sem sombras de dúvidas minha vida não foi mais a mesma depois de ouvir aquela fita transparente. Apaixonada, na tentativa de compreender e de saber sobre o universo e sobre a biografia do meu amor fui deparando-me com nomes que foram fundamentais para a minha formação intelectual. Um desses nomes foi o do seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda. Aos 15 anos, li Raízes do Brasil. Entendi pouca coisa, mas a reflexão sócio-histórica do livro ficou. Depois conheci Rubem Fonseca, ex-sogro da sua filha Sílvia. Outro caso de paixão. Li inúmeros livros do mestre da literatura policial brasileira e nunca mais deixei de tê-lo como referência. Aos poucos, encontrava Dostoievski, Tolstoi (os dois escritores eram referencias pra ele na adolescência tb), João Cabral, Manuel Bandeira (compadre de seu pai), Vinicius.

Cheguei à Bossa Nova e foi outra revolução. Agora meu coração era dividido entre Buarque e Tom. Com Chico além de música e literatura, descobri cinema, política, filosofia e muitas outras coisas que hoje fazem parte de mim.

Como as verdadeiras paixões, passou. Ficou a sensibilidade poética, a memória das suas músicas e as recordações que saem delas. Hoje tenho algumas ressalvas em relação às construções e idealizações que o cancioneiro buarqueano projeta.


Em tempo: ainda há algumas coisas que Francisco me possibilitou. Relato posteriormente. Depois tb falarei do efeito Caetano na minha vida.

Palavras retóricas

“Conte sempre comigo”,
“Precisando é só ligar”,
“Te ligo amanhã”
“Vamos marcar de nos encontrar?”
“Poxa, quantas saudades...”

Até quando lançaremos mãos de frases retóricas jogadas ao ar sem quaisquer compromisso com a verdade, ou melhor, com a realidade?? Sabe quando você encontra aquela pessoa que você não vê há séculos e ela enuncia algo do tipo: vamos marcar pra conversar, precisamos botar a fofoca em dia. No entanto, tanto você quanto ela sabem que esta afirmativa é tão inverossímil quanto as novelas de Manoel Carlos, que eu amo. Já passei por diversas situações parecidas como aquelas em que vc dá carona a um amigo e ele te chama pra subir pra casa dele na hra da despedida.

Se essas coisas me acontecessem há um tempo atrás eu ficaria um tanto quanto incomodada por estas atitudes meio.... deixa pra lá. Na terapia tentei segurar a onda e diminuir a exigência em relação aos outros. “Aprendi”. Mas vez por outra, fico meio emputecida de ouvir estas palavras que as pessoas jogam ao léo. Sabe pq? Pq elas atestam um certo descompromisso com o outro e, radicalizando, com a verdade. Eu mesma já cometi essa “gafe” várias vezes, hj me policio. Tento prometer apenas aquilo que posso cumprir. Mesmo que demore um pouco, eu sei.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Oito horas por dia

Eu nunca vi uma resolução (não sei, ou melhor, não lembro que outro termo poderia usar) tão idiota como aquela que determina as escravizantes 8h/dia. Sei não. Acredito que esse lance do horário de trabalho deveria ser flexível, algo como carga horária relativa à demanda e que casa-se com a responsabilidade do empregado e tal. (Neste quesito tenho um pouco de sorte)

A incongruência das benditas 8h diárias reside no fato que sendo assim, não há o tempo para o ócio criativo, para o aprimoramento... se eu fosse conversar isso com algum amigo marxista ele diria que esta é a lógica do sistema capitalista. O burguês suga todas as suas energias para que você não possa ter consciência da sua situação opressiva e para que você não tenha a possibilidade de ascender. Acho que tou começando a concordar e o que é pior, o sistema já me engoliu. E agora, o que farei?

Em tempo: sempre achei que os meus melhores momentos são aqueles em que fico sem fazer nada, preguiçando, pensando e tal. São neles que me encontro, imagino, sonho e, sobretudo, aprendo.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Andar de ônibus

Desde o Dia Internacional sem Carro _ 22 de setembro _fiquei pensando sobre a necessidade de minimizar a sua utilização na minha vida. Usar o tempo todo este veículo é contraditório, louco, talvez. Você ganha liberdade, mas perde interação, contato. É uma das formas de prisão que os pequenos burgueses se submetem. As pessoas passam a ter apenas contatos com seus iguais, passam a aspirar coisas semelhantes e o pior a ter o mesmo discurso. Quero isso não.

Fora que quando você está ao volante esquece de olhar a cidade e as pessoas. E isso é tão problemático. Prefiro o olhar do turista, do encantamento. Não quero deixar de ser seduzida pelas pontes e pelas geografias humanas desenhadas nos rostos dos transeuntes e dos passageiros de ônibus.

Outro ponto que contribui para que eu escolha conscientemente utilizar os transportes públicos é a questão da minha profissão. Mesmo que hoje eu esteja assessora de imprensa não posso perder de vista a sensibilidade e o espírito jornalísticos. E partes deles surgem com o contato, com o transitar...

Andar de ônibus é fundamental para a sobrevivência de uma parte de mim que, por vezes, distancia-se.

Há oito anos vivo confinada dentro do meu carro sem ter a exata noção do que sou ou do que era a minha cidade. Perdi a capacidade contemplativa. Lamentável.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A crise do depois dos 25

Apesar de nós sempre acharmos que estamos à frente de tudo quando nos comparamos à outras civilizações, penso que alguns dos nossos parâmetros e nossas verdades são dolorosamente opressoras, sobretudo, quando pensamos no universo feminino burguês. Senti isso há duas semanas, quando completei 26 anos. Uma espécie de crise light pré-existencial aproximou-se de mim. Daí, pude pensar sobre algumas coisas com as quais eu convivo, mas que não tinham sido de certa forma percebidas.

1. odeio a ditadura do cabelo lisérrimo; já submeti-me às escovas progressivas da vida, uma única vez confesso, mas hoje não faria mais isso. Acho uó quem vive em função dos parâmetros alheios. Prefiro o meu cabelo liso-indefinido, ao natural mesmo.

2. também desencanei desta coisa de viver com dez quilos a menos que a sua altura. Estou bem com os meus 64 kg / 1,71 m. Detesto tb este lance da obrigatoriedade de fazer exercícios físicos. E aquele lance do eterno regime feminino? Não gente, acho tudo isso insuportável. Não é um manifesto pró-obesidade, mas acho que devemos nos curtir sem neuras e sem auto-violações saca?
3. descartei também o lance de colocar silicone. Ainda bem que me conscientizei antes de fazer a merda.

4. aquela história que a gente tem que tá sempre bonitinha, arrumada e com um cara maravilhoso ao lado ninguém merece né? Eu adoro maquiagem, roupa, sapato e perfumes, mas sem o lance da obrigatoriedade, sem essa de “ter que estar”. Já quanto ao bonitão, é bom tê-los por perto, mas com paixão, parceria e disponibilidade. Sem estes itens as coisas não valem a pena, ficam meio fakes.

5. outra falácia que pensei foi a da eficiência da mulher multifunções (mãe, dona-de-casa, profissional exemplar, boa companheira e amante). Esta é a mais opressora de todas. E parte dos nossos problemas estão resumidos aqui. Aos poucos, tenho tentado eximir-me das culpas ao mesmo tempo em que deixo de acreditar em heroínas. Não é um processo fácil, pois desde sempre fui programada para desempenhar todas estas atividades (leia-se bonecas, casinhas, boas escolas, bons empregos, príncipes encantados, manuais de sexo).

Talvez tudo eu que disse seja muito clichezão. Todo mundo já tenha falado isso milhões de vezes e tal. Mas completar 26 anos permiti-me tb caminhar por lugares conhecidos, apropriar-me de discursos alheios sem a pretensão de ser original e genial. Há ainda alguns outros aspectos que giram em torno da proximidade dos trinta. Eles são mais subjetivos, mais íntimos, no entanto, ainda não consegui identificá-los

Desabafo

Nunca pensei que uma merda de um assalto ia me fazer refletir tanto. Sabe quando você se sente ultrajada? Passei por esta sensação na última semana quando ocorreram dois fatos inusitados: na segunda, recebi um telefonema de um cara que me ligou para dizer que havia sido assaltado no sábado dia 18 que levaram o carro dele e tal, que o carro que o assaltou era o meu e que por acaso o local do assalto foi na minha rua, coisa de uns 100 metros. Isso me deixou abalada. Aí, depois, na sexta, quando estou indo pegar o ônibus vejo o meu carro trafegando na avenida normalmente. Foi a gota d’água. Aquilo me feriu profundamente. Não pelo fato de ver o meu carro, mas pela impunidade, pela insegurança, por um sentimento que não sei nem precisar. O cara ficava passeando de carro como se fosse normal, tudo muito tranqüilo.

No sábado, às 7h15 recebo um telefonema de um agente da PRF. Encontraram o bendito carro. Roubaram todo o que podiam bateria, pneus, extintor... Tudo terminou.

Mas ficou aquela sensação estranha, descrença. Espero que passe.

****************

Confessei a minha experiência pra poder refletir sobre a segurança pública e sobre a violência, ou melhor, o estado de violência que vivemos.

A quem devemos recorrer? A ineficiente polícia civil que, como todos sabemos, é sucateada, desonesta, recebe baixos salários, não tem infra-estrutura, não consegue dar conta da demanda,...

O pior é que somos conscientes de tudo, mas a ficha só caí quando precisamos do seus serviços. Na realidade, a classe média, vive numa pseudo-blindagem, uma suposta tranqüilidade.

Agora, luto para não mudar meus hábitos, para não entrar na paranóia de que serei a próxima vítima a qualquer momento.

Na realidade, a impunidade está em todos os lugares, ela é a quase sinônimo do meu país. Infelizmente.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A partida

Osman Lins é um dos grandes escritores que conheci. Vou falar dele e, especificamente deste texto mais tarde.



A partida
Osman Lins


Hoje, revendo minhas atitudes quando vim embora, reconheço que mudei bastante. Verifico também que estava aflito e que havia um fundo de mágoa ou desespero em minha impaciência. Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava farto de chegar a horas certas, de ouvir reclamações; de ser vigiado, contemplado, querido. Sim, também a afeição de minha avó incomodava-me. Era quase palpável, quase como um objeto, uma túnica, um paletó justo que eu não pudesse despir.

Ela vivia a comprar-me remédios, a censurar minha falta de modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu já sabia de cor. Era boa demais, intoleravelmente boa e amorosa e justa.Na véspera da viagem, enquanto eu a ajudava a arrumar as coisas na maleta, pensava que no dia seguinte estaria livre e imaginava o amplo mundo no qual iria desafogar-me: passeios, domingos sem missa, trabalho em vez de livros, mulheres nas praias, caras novas. Como tudo era fascinante! Que viesse logo. Que as horas corressem e eu me encontrasse imediatamente na posse de todos esses bens que me aguardavam. Que as horas voassem, voassem!

Percebi que minha avó não me olhava. A princípio, achei inexplicável ela fizesse isso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura que incomodava. Tive raiva do que me parecia um capricho e, como represália, fui para a cama.

Deixei a luz acesa. Sentia não sei que prazer em contar as vigas do teto, em olhar para a lâmpada. Desejava que nenhuma dessas coisas me afetasse e irritava-me por começar a entender que não conseguiria afastar-me delas sem emoção.Minha avó fechara a maleta e agora se movia, devagar, calada, fiel ao seu hábito de fazer arrumações tardias.

A quietude da casa parecia triste e ficava mais nítida com os poucos ruídos aos quais me fixava: manso arrastar de chinelos, cuidadoso abrir e lento fechar de gavetas, o tique-taque do relógio, tilintar de talheres, de xícaras.Por fim, ela veio ao meu quarto, curvou-se:— Acordado?Apanhou o lençol e ia cobrir-me (gostava disto, ainda hoje o faz quando a visito); mas pretextei calor, beijei sua mão enrugada e, antes que ela saísse, dei-lhe as costas.Não consegui dormir. Continuava preso a outros rumores.

E quando estes se esvaíam, indistintas imagens me acossavam. Edifícios imensos, opressivos, barulho de trens, luzes, tudo a afligir-me, persistente, desagradável — imagens de febre.Sentei-me na cama, as têmporas batendo, o coração inchado, retendo uma alegria dolorosa, que mais parecia um anúncio de morte. As horas passavam, cantavam grilos, minha avó tossia e voltava-se no leito, as molas duras rangiam ao peso de seu corpo. A tosse passou, emudeceram as molas; ficaram só os grilos e os relógios. Deitei-me.Passava de meia-noite quando a velha cama gemeu: minha avó levantava-se.

Abriu de leve a porta de seu quarto, sempre de leve entrou no meu, veio chegando e ficou de pé junto a mim. Com que finalidade? — perguntava eu. Cobrir-me ainda? Repetir-me conselhos? Ouvi-a então soluçar e quase fui sacudido por um acesso de raiva. Ela estava olhando para mim e chorando como se eu fosse um cadáver — pensei. Mas eu não me parecia em nada com um morto, senão no estar deitado. Estava vivo, bem vivo, não ia morrer. Sentia-me a ponto de gritar. Que me deixasse em paz e fosse chorar longe, na sala, na cozinha, no quintal, mas longe de mim.

Eu não estava morto.Afinal, ela beijou-me a fronte e se afastou, abafando os soluços. Eu crispei as mãos nas grades de ferro da cama, sobre as quais apoiei a testa ardente. E adormeci.Acordei pela madrugada. A princípio com tranqüilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restavam-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco.

Veio-me então o desejo de não passar nem uma hora mais naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela?

Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?Ela estava encolhida, pequenina, envolta numa coberta escura. Toquei-lhe no ombro, ela se moveu, descobriu-se. Quis levantar-se e eu procurei detê-la. Não era preciso, eu tomaria um café na estação. Esquecera de falar com um colega e, se fosse esperar, talvez não houvesse mais tempo. Ainda assim, levantou-se. Ralhava comigo por não tê-la despertado antes, acusava-se de ter dormido muito. Tentava sorrir.

Não sei por que motivo, retardei ainda a partida. Andei pela casa, cabisbaixo, à procura de objetos imaginários enquanto ela me seguia, abrigada em sua coberta. Eu sabia que desejava beijar-me, prender-se a mim, e à simples idéia desses gestos, estremeci. Como seria se, na hora do adeus, ela chorasse?

Enfim, beijei sua mão, bati-lhe de leve na cabeça. Creio mesmo que lhe surpreendi um gesto de aproximação, decerto na esperança de um abraço final. Esquivei-me, apanhei a maleta e, ao fazê-lo, lancei um rápido olhar para a mesa (cuidadosamente posta para dois, com a humilde louça dos grandes dias e a velha toalha branca, bordada, que só se usava em nossos aniversários.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Acabrunhada

No momento, estou sem esperanças no meu país. Espero que seja uma sensação momentânea, algo passageiro, reflexo dos últimos acontecimentos. Estou assim desde que a minha pseudo-segurança pequeno burguesa foi colocada em xeque. Isso mesmo, entrei para os índices das vítimas da violência urbana e há nisso tudo diversas nuances. Há sentimentos, frustrações e incertezas. Por isso, desabafarei.

A noite do dia 11 de outubro de outubro pra mim foi meio adversa. Fui assaltada quando chegava em casa com meus pais. Estávamos no nosso prédio e um sujeito que apareceu do nada, apontou uma arma pra minha cabeça, engatilhou o revólver pra minha mãe, levou o meu carro, minha bolsa, meus documentos. Até aí “tudo bem”. São apenas perdas financeiras, mas houve também perdas afetivas e emocionais. Estava no carro um diário da minha mãe que tinha no mínimo 50 anos de existência. Lembro de alguns momentos encontrá-la lendo o que seu pai havia escrito. Era uma forma de torná-lo presente, vivo. Havia também dois vestidinhos meus da época em que era bebê. Eles eram lembranças para mostrar aos meus filhos, pois foram as minhas primeiras roupinhas. Já as perdas emocionais são algumas: uma sensação de insegurança, impotência,...

Na realidade, narrei este episódio para poder falar sobre a violência urbana e como ela esta sendo naturalizada entre nós. Duas coisas me vêm à cabeça: a minha experiência como repórter policial e o contador do pebodycount que vejo todos os dias. Como repórter, eu sempre tentava distanciar-me de alguma forma, uma coisa pra se proteger emocionalmente e tal. Na verdade as vidas e as dores, viravam personagens, noticias, histórias, leads... Se na época eu já achava tudo uma merda, agora distante temporalmente daquilo ali, aí é que me incomodo mesmo. Quanto ao PE Body Count, site feitos por uns colegas jornalistas e que tem um contador sobre os números da violência no estado, todo dia eu passavam em frente ao contador e via sem muito espanto os números de homicídios que sempre ultrapassavam uma dezena. O impressionante nas duas experiências é que as estatísticas e leituras jornalísticas e sociologizantes cediam lugar a algo que é muito maior. Algo que envolve subjetividades como comportamentos, escolhas, emoções, saúde...

Uma outra observação.O que mais ouço desde do dia do assalto é “graças a Deus estão todos bem” ou “podia ter acontecido algo pior”. Concordo com o principio das duas sentenças, no entanto, acho que quando colocamos as coisas desta forma estamos nos adaptando a uma situação inadaptável, algo que não pode ser visto de uma forma tão prosaica. Graças a Deus que eu saí ilesa sim, mas não posso sentir-me aliviada. E o discurso que evoco aqui não é o da materialistasinha ou da burguesinha que só pensa em grana e que despertou pra realidade social agora. Eu tou pensando que de repente o meu vizinho que mora na favela ao lado está gritando pra mim que não existe Estado, segurança pública e que eu vivo na terra de ninguém. Sim, pq uma semana depois do meu assalto, foi a vez da minha prima que estava chegando na casa da minha tia que mora uma rua depois da minha. Ela teve mais sorte, a gasolina do carro dela acabou e o automóvel foi encontrado; E o que é pior, ontem um senhor não sei de onde liga pra mim e diz que foi assaltado na minha rua, cerca de 100 metros da minha casa, e que o carro que foi utilizado para o assalto era o meu. J Parece piada né? Mas não é. Quando fui à delegacia fazer o B. O. encontrei uma delegacia caindo aos pedaços, não tinha cadeira pra sentar e um funcionário puto que amargamente dizia-me: no meu plantão de hoje, que ainda está na metade, o seu carro é o 15º automóvel roubado. Lembrando só que era uma delegacia de plantão de um bairro classe média. Sei não viu?


Diante deste quadro dantesco, lembrei de uns colegas do curso de francês que apesar da vida estabilizada aqui no Brasil, decidiram migrar para o Canadá em busca de um pouco mais de segurança e de um Estado eficiente. Não sei se pra mim a migração seria uma possibilidade viável. Eu acreditava tanto em tudo isso aqui.

Sei lá, comecei

Eu sempre tive muita vontade de ter um blog. Há algum tempo, acompanho os textos dos diários virtuais de amigos próximos e, de alguns meses pra cá, visito diariamente páginas de pessoas que não conheço, mas que me encantam pelo estilo ou pelos assuntos que abordam. Na realidade, o que me fazia adiar o projeto de iniciar na vibe da blogosfera era pensar em ter que fazer definições sobre mim (como as que vejo nas margens das páginas que entro) e, sobretudo, ter que definir o “pseudo perfil editorial” do meu espaço. Sei lá, neste momento ando meio avessa à definições ou coisas do gênero. Também fico um pouco incomodada de expor-me indiscriminadamente. No entanto, mesmo sem saber o que será, irei entrar aqui. E esta decisão tem algumas justificativas psicologizantes pra mim. Parar para escrever aqui será o momento da oxigenação, da confissão, da criatividade,...

Espero ter sempre o que contar. Sejam todos bem-vindos.


Ahh, ia esquecendo, há muito tempo tentei fazer este tipo de “exercício” no fotolog, mas achei que o suporte ia aquém das minhas necessidades proto-filoliterojornalisticoexistenciais; tudo ali soava-me meio raso.


P.S. Créditos para Juju Dutra miga maga mestra para assuntos webísticos.