quarta-feira, 29 de julho de 2009

Geleia geral

por acaso tou lendo Torquatália. Eu conhecia o Torquato por causa das suas parcerias com os baianos e das referências a ele em Verdade Tropical. Grande surpresa ter contato com seus textos, universo. Ainda estou digerindo-o, mas intuo que já entrará para o hall dos meus preferidos.

Pra homenageá-lo, esta composição que o Caetano fez quando foi visitar os pais do Torquato uma semana depois que ele havia morrido. A canção é hiper singela e depois que soube da história passei a amá-la ainda mais.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A força que nunca seca

Voltei de Boa Viagem sozinha de madrugada. Depois de um dia tão duro com tantas pressões refugiei-me em Chico César. Era uma tentativa de afastar o desespero. Acho que funcionou

Vontade de Surubim

Ontem no meio do turbilhão de trabalhos cotidianos senti um vazio, algo como uma espécie de pesar nostálgico do espaço e do tempo agrestino que estão nas minhas melhores memórias. Ali, naquela caatinga à beira do Caiai, vivi os melhores momentos da minha infância. A cidade era minha e a possibilidade de tê-la como uma propriedade deixava-me imensamente segura.

Vivia a correr entre as suas ladeiras, a andar naquelas calçadas singelas e a sonhar escondida no carramachão. Nos altos das goiabeiras pude explorar uma perspectiva obtusa da cidade que me acolhia ante à solidão.

Há, nas minhas lembranças de Surubim, uma melancolia dolorosa que me faz descartar a sisudez habitual e me leva às lágrimas contidas. Ao perceber que a cidade não mora mais em mim, sempre que volto lá, sinto-me renovada e triste.

Aqueles cheiros pueris, as cores do casario, que já não existem mais, os sons clericais estão latentes como nunca. A onipresença da caatinga perpetuou eternamente a minha vida e hoje esta paisagem está entranhada em mim.

Existencialmente, a generosidade do tempo agrestino foi fundamental pra definir quem eu sou.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Abaixo aos amores burocráticos

Tá, eu não sou nenhuma Carrie Bradshaw, mas há três coisas que, confesso, gosto de falar: sexo, relação e vida alheia. E foi pensando nesta tríade que decidi escrever um pouco sobre amores burocráticos e o quanto eles são nocivos.

Amores burocráticos são aqueles em que a presença do outro é imposta e que o assujeitamento é tão latente que em todos os momentos a dois você sente a repressão e o não-afeto, ou seja, em vez de conquistar delicadamente seu espaço, o pseudo-parceiro coloniza-o, trazendo com isso tudo o que há de pior. Para tanto, sutilmente, ele impõe a sua presença durante todo o seu final de semana. Quando estão juntos, nas horas em que você conversa coisas amenas, ele tenta persuadi-la a achar, por exemplo, que o tucanato paulista é uma coisa maravilhosa. Enfim, eles são reacionários, óbvios e medíocres.

Amores burocráticos cobram ligações telefônicas diárias e satisfações de como foi o seu dia – do momento em que vc abriu os olhos até o do fatídico encontro. Essa pretensão de saber do outro respalda a insegurança e a não-compreensão do desejo alheio que em muitos momentos não apontam para ele.

Amores burocráticos passam a oprimir seus sonhos e desejos futuros pq exigem estar neles. Outro exemplo, nas primeiras semanas de namoro eles incluem-se em seus planos de viagem que ocorrerão daqui a três meses. Pra eles não existe individualidade. Ao contrário, vivem eternamente desrespeitando-a.

Amores burocráticos não têm pegada e nem despertam tesão porque tudo na relação que eles propõem soa falso, forjado. Eles não se liberam das amarras das convenções e fazem delas sua armadura, tentando defender-se da possibilidade de ser algo que não é superficial.

Amores burocráticos preocupam-se com convenções, status, para poder dar satisfação ao ego e aos olhares alheios. Eles querem mostrar ao mundo que cumpre as normas pequenas burguesas de namorar, casar, ter filhos e constituir família.

Amores burocráticos são anacrônicos, não conseguem acompanhar as mudanças de perspectivas, não entendem as novas ideias. No campo emocional, tudo o que foge do plano da segurança, tudo que cheira ao risco lhes soa indigesto.

Amores burocráticos são anêmicos e glutões. Não exploram novos ambientes. Gosto de lugares caretas e conversam sobre coisas caretas. Se alimentam da tradição e não oxigenam suas vidas com o contemporâneo, novamente, com o novo. Preferem um prato cheio aos sabores diminutos da pequena poesia cotidiana.

Amores burocráticos são carentes e isto deve-se ao fato deles perceberem-se indesejáveis no sentido mais sexual do termo. Nada neles sugere o afeto, a conquista.

Amores burocráticos são feios e vestem-se horrorosamente. Aqui também eles não ousam. Preferem vestir-se com algo que o filie a qualquer bobagem a ter que mostrar seus posicionamentos, suas convicções.

Amores burocráticos são grosseiros e mal-educados, pois não compreendem a pequena ética do afeto, da compreensão e da liberdade. Na tentativa de justificarem-se, eles evocam uma história familiar triste, um trauma antigo, mas eles esquecem que o afeto é o lugar da leveza, da plenitude e não o espaço escape da frustração.

Depois de tantas tentativas de definir os amores burocráticos, cabe-nos dizer, ou melhor, repetir, que eles são burocráticos porque seguem as regras, os padrões alheios e as convenções amorosas. Contraproducentemente, eles despertam no outro sentimentos que vão do desprezo ao asco.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

voltando pro começo

É redundante e já falei disso outras vezes aqui, mas conhecer João Gilberto foi definitivo pra mim. Meu conhecimento e minha sensibilidade musical foram profundamente modificados com a descoberta do repertório e do modo de cantar de João.

Esta música que tou postando hoje é do Dorival Caymmi. Não sei por quê, mas tem alguma verdade nela.


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Eu não quero ser José Mindlin

Querida Ju,

acho que precisamos fundar logo aquela grupo que havíamos pensado em criar quando estávamos em terras fluminenses. Você acredita que desde que cheguei já acrescentei mais dois objetos de desejo a minha prateleira branca? Confesso que um deles foi o "Prenez soin de vous".

Mas amiga, o que será que nos move a esse desejo compulsivo de adquirir aqueles retângulos de folhas? De onde vem tanta devoção a um ser que é tão egoísta, tão instável e cheio de verdades insurportáveis?

Você se lembra quantas vezes, ao longo de nossas vidas, ele nos pediu mais atenção e, submissamente, deixamos tudo para dedicar-lhe algumas horas? Quantas vezes economizamos, apertamos o orçamento, cortamos surpéfluos - comer, por exemplo, e aplicamos e gastamos tudo com ele?

É, mas parece que ele não reconhece o impacto que causa às nossas vidas. Será que ele já pensou nas mudanças que nos trazem? Acho que não. Como diz minha vó: "ele é tão dono de si". Por isso, precisamos organizar a confraria para tentar estelecer e construir uma relação saudável com ele. Curadas, a racionalidade reinará.

"Só por hoje, não comprei um livro". (MENTIRA)


* Em breve o estatuto e os primeiros passos do provisório MALDA (Mulheres que Amam Livros Demais Anônimas).

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Tietagem singela

O burburinho descabido, a movimentação intensa, os olhares superdimensionados e unidirecionais. No meio de tudo aquilo, entrei pelo lado esquerdo. Meio desajeitada aproximei-me. O contato com o autor que respeito infinitamente se deu assim de forma prasaica e quase imaginária. Trocamos algumas palavras. Chamei-o de sr. Falei algo sobre admiração. Conversamos sobre conhecidos em comum. Tudo como um flash. Ele se mostrou doce, amável e sincero.

Naquele momento, apesar de cultivar uma paixão adolescente por Chico, que estava há um metro de distância na mesma mesa, Milton Hatoum era maior pra mim. Seus livros, ou melhor, sua escrita me atraia mais. Hoje tenho aqui na prateleira um exemplar de Cidade Ilhada autografado, mas que bobagem!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Confissão pós-férias

...voltar à vida real é um pouco complicoso. Sobrevive impiedosamente o estranhamento. Fico com a sensação de descompaço. Tenho muito a dizer, mas o que me sai são apenas sílabas imaturas que juntas não formam coisas alguma, apontam para o nada. Por isso, ainda não estive aqui para relatar viagens ocorridas, experiências sensoriais, afetivas e, acima de tudo, emocionais.

Preciso administrar-me. Antes disso permaneço tentando compreender Leite Derramado e a escrita buarqueana. Simultaneamente, recordo de Paraty, da Flip,...


quinta-feira, 2 de julho de 2009

paraty

tou na FLIP em Paraty. Tudo aqui me soa demasiadamente singelo. Há aqui um misto de badalação e paixão por literatura.

Volto na próxima semana com detalhes da odisséia portenha e das histórias na cidade fluminense.