quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Concerts

Estava falando a pouco com uma amiga sobre shows. Ela me dizia que não curtia mais ir às apresentações ao vivo. Eu ainda carrego uma certa dose juvenil no espírito e por isso me empolgo demais com a possibilidade de ver corporificado a alguns muitoooos metros de distância minhas referências musicais.

Confesso, entretanto, que já desponta em mim aquele verme da velhice que me leva a pensar em lugares mais tranquilos, sem agitação. Ou aquela ultra resistência de evitar ao máximo lugares mega barulhentos em que não podemos conversar, trocar ideias.

Falei isso pq neste mês coincide de ocorrer três shows de artistas e banda que considero demais e fazem a minha cabeça: Paul McCartney, Belle & Sebastian e Lou Reed.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A poética do espaço*

Engraçado, há quase uma semana, ando ouvindo e pensando tanto nos mineiros. No carro, o percurso diário é feito à base de Beto Guedes. Em casa, nas horas de ócio, são canções de Milton Nascimento que procuro no Youtube e nos googles da vida.

Gosto demais da poesia deles, há uma nostalgia delicada em canções tipo Maria solidária e Bola de meia, bola de gude. Acho encantador perceber a infância e a inocência sendo evocada pelos poetas e compositores. Traduz, de alguma forma, o reencontro com a origem, com a memória, com o afeto.

Agora, o que mais me encanta nos dois mineiros é a relação estreita que eles mantém com a natureza. Sobre esta questão fiquei pensando em uma tradição poética mineira que é sempre colocada e reinventada e que demonstra o quanto a terra, a geografia e o mundo natural impregnam a subjetividade desses artistas. Lembrei de Guimarães, de um certo Drummond, de Mutum de Sandra Kogut e de um documentário que assisti em abril Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira, acho. Na música, de cara, isso fica muito claro pra mim em Sol de primavera e o Sal da Tera, por exemplo.

Ando refletindo bastante sobre a relação entre o espaço físico, a percepção estética e a construção da subjetividade. Não tenho respostas para muitas questões, tipo: até que ponto a reflexão sobre o espaço na arte contemporânea traduz uma nova percepção e, sobretudo, possibilita novas poéticas? Talvez os possíveis caminhos para as respostas só surjam daqui a uns anos, quando a tese estiver pronta...

Mas o que queria falar mesmo é sobre este trecho da música de Bituca que reflete um pouco o meu desejo e uma certeza diante da saudade de Narinha.



Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto

A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar


* O título do post não é uma homanagem a Bachelard. rsrsrs

domingo, 15 de agosto de 2010

Balança mas não cai

O final do ano não chegou ainda, mas a sensação que tenho é que estou fechando um ciclo e aos poucos entro no meu novo ano. Agora, escrevendo, lembrei que isso pode ser pq está perto do meu niver, mas na realidade o que me motivou voltar aqui e escrever foi a tentativa de compreender tudo o que se passou, aquela velha coisa de pensar na experiência e no saldo positivo no meio do caos.

Aprendizados, choros, angústias e perdas marcaram os últimos tempos. Ao mesmo tempo reencontrei-me com uma Raquel melhor, mais espiritualizada, equilibrada e paciente. Uma espécie de protótipo do joão-bobo que foi ao chão algumas vezes, mas que por natureza tende a ficar de pé.

De todos os fracassos, o que me mais me doeu foi a morte de Nara, a minha gata-filha. Dos outros, sobraram algumas lembranças e restos de mágoas. Ainda tento elaborar e digerir alguns e espero estar livre de todos em um futuro próximo. A mudança não ocorrida, a viagem não realizada, a expectativa frustrada, os nãos cortantes, os sins que não vieram, as despedidas, os esquecimentos, nada dói mais do que ter que sentir a ausência da minha bichinha.

Desculpem a amargura ou o tom excessivamente confessional. Não estou deprimida, nem triste só vivo um momento de hiper-realismo que é preto e branco e sem som. O romantismo pós-adolescente pulou pela janela, o idealismo juvenil evaporou e a alegria infantil e descomprometida esvaiu-se, restaram o otimismo, a plenitude da proto-maturidade, o amor e meia dúzia de certezas tolas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Nara se foi ontem

Estamos enlutados. Tudo parece estar diferente, as cores, os sons, a sensação de permanecer vivo. Só o cheiro dela permanece no ar e aquela expectativa de vê-la entrar docemente no quarto tb continua. Talvez daqui a alguns dias possa descrever com mais precisão este desamparo que a morte nos causa.

Hoje colo aqui um texto lindo da Danuza Leão que traduz um pouco esta sensação de ver partir um animal. Foi publicado há mais de um ano na FSP.



Quanta tristeza

Minha gatinha era silenciosa, discreta, não miava, mas sem ela a casa está deserta, e minha vida também


MINHA JUJUBA MORREU . Vivemos juntas durante três anos e eu nunca imaginei que gostasse tanto dela quanto gostava. Jujuba era uma gatinha branca tão arisca que nunca consegui botá-la no colo para fazer carinhos, como tantas vezes tentei. Ela não dava intimidades, mas gostava de mim. Me seguia pela casa onde eu fosse, deitava do meu lado, bem encostadinha na minha perna, mas não gostava que eu a tocasse. No máximo, eu podia pôr a mão em cima dela, sem mexer um dedo que fosse. Mas na hora em que eu ia dormir, o lugar dela era sempre no travesseiro ao lado do meu.


Jujuba começou a emagrecer, e quando chamei a veterinária, foi feito um exame de sangue e constatada uma doença no fígado. Ela foi internada, e como não comia, começou a ser alimentada por soro. Fui vê-la na clínica e me cortou o coração ver aquela coisinha tão pequena, com uma patinha raspada para colocar o cateter, e me olhando com seus grandes olhos amarelos, como se perguntasse "por que estão fazendo isso comigo?". Foi muito, muito triste vê-la assim. Eu ligava três vezes por dia para ter notícias, mas a resposta era sempre a mesma: o quadro era estável, isto é, nada havia mudado.


Até que um dia a veterinária me disse que, se nos próximos dois dias ela não tivesse uma grande melhora, não haveria mais esperanças. No dia combinado, liguei às 11h da manhã, e ela me disse que minha Jujuba já estava em coma e que era uma questão de horas. Perguntei se ela deixaria a natureza agir e ela disse que sim; ela não estava sofrendo, não era o caso de sacrificá-la.


No primeiro momento senti até um certo alívio; pensar em Jujuba no soro, se alimentando através de uma seringa, era triste demais. Mas esse alivio durou muito pouco: quando pensei que nunca mais ia vê-la nem tê-la deitadinha perto de mim, fiquei com o coração apertado. Estava sozinha em casa, não tinha com quem falar, fiquei tonta, sem saber o que fazer. E resolvi, apesar da minha covardia nessas horas, ir me despedir dela. Não queria, não podia deixá-la morrer sozinha.
Fui para a clínica e telefonei do carro, mas ela havia morrido há 20 minutos. Não tive coragem de vê-la morta. Eu achava que não seria mais capaz de chorar, que já havia chorado todas as lágrimas que tinha, mas que nada. Passei dois dias só lembrando dela passeando pela casa com aquela elegância, andando pelas costas do sofá, deitada em cima dos jornais que eu ainda não havia lido, e sobretudo da hora em que me deitava, com ela no travesseiro ao lado; e estou com uma saudade tão grande que não dá nem para contar. Ela era silenciosa, discreta, não miava, mas sem ela a casa está deserta, e minha vida também.


Nunca pensei que pudesse ficar tão triste com a morte de uma gatinha; nunca havia passado por isso, e nunca mais quero passar. Mas não vou me esquecer dela; do jeito que se encostava na minha perna e fazia dela travesseiro, do jeito que me olhava pedindo que eu lhe desse um petisco -ela adorava atum de lata-, e lamento muito, muito mesmo, por não ter chegado na clínica mais cedo, para estar fazendo um carinho na sua cabecinha, nos seus últimos momentos, ou só botar a mão em cima dela, sem mexer um dedo, como ela deixava. Deve ser triste morrer tão sozinha. E a morte continua sendo incompreensível e inaceitável, mesmo a de uma gatinha.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Inverno

Sabe quando vc se sente no meio de um temporal e não tem pra onde correr? Esta é sensação que sinto quando me deparo com as questões que tenho para resolver. Na minha lista há cinco itens urgentes, graves e definidoras que tenho que organizar, descascar, enfrentar... No entanto, parece que estou no meio da rua e não há abrigos onde posso esperar a chuva passar. Tenho é que me molhar mesmo, com aquele otimismo e esperança de sempre que falam que o sol voltará a brilhar novamente. Em alguns minutos talvez.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Luto anunciado






Minha gatinha tá doente (foi diagnóstica com câncer)e esta previsilidade da morte me deixou um pouco assustada. Já havia pensado na morte em vários sentidos, o filosófico, o religioso, o artístico, mas tê-la próxima de um ser tão miúdo e por quem nutro tanta afeição mexeu um pouco com aquela pretensão de onisciência e poder que é tão cara a mim.

Com Nara aprendi a respeitar e amar os animais. Descobri que eles têm afeto, são inteligentes e verdadeiros. Muitas vezes questionei quem realmente era o mais evoluído e passei a refletir em torno da hierarquia de valores relacionada a superioridade da raça humana em detrimento à animal. Em quase dois anos de convivência ela ensinou-me demais e isso levarei para a vida toda.Todos aqui em casa estão vivendo um luto anunciado, uma espécie de dor suspensa.

Contraditoriamente a única certeza que temos na existência é a que mais tentamos escamotear. Enfim, não há enfretamento digno ante à morte. Diante dela somos todos miseráveis, pois com seu cajado e vestes pretas ela destrói a nossa pretensa racionalidade, ao apresentar-nos friamente a nossa mediocridade.

No entanto, a fé cristã me coloca a esperança e espero que as coisas sejam revertidas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

já foi o tempo

Semana passada fui ao CinePE. Confesso que o único motivo que me fez cruzar a cidade e chegar ao Centro de Convenções foi de ordem exclusivamente profissional, pois quase nove anos depois de estrear neste festival como telespectadora entusiasta percebo hoje que nada ali me sensibiliza. Apesar de ser mais ou menos da área, tenho uma certa resistência com a proposta deste evento que mobiliza os "apaixonados por cinema" no Recife.

Com olhos azedos o que pude constatar ali foi uma aglomeração de jovens eufóricos, um magote de transeuntes e aquelas mesmas figuras de sempre que encontramos toda semana no bar de sempre. Ao perceber aquilo tudo fiquei pensando que tipo de experiência cinematográfica aquelas pessoas levariam pra casa ou ainda que panorama do cinema brasileiro era aquele exibido na imensa tela do Teatro Guararapes.

Enfim, perceber que mudamos a nossa percepção das coisas é um tanto complicoso, pois aponta pra nós um tempo interno que tb tem sido alterado.

sábado, 3 de abril de 2010

As sutis memórias de Suleiman

O que resta do tempo é um filme que surpreende. À primeira vista, o que salta aos olhos é o componente histórico que marca narrativamente o filme. No entanto, o tom memorialístico assume a dianteira e passa a nos conduzir. Neste sentido, apesar de pautado por fatos, é a subjetividade que impregna a obra.

Os planos estáticos, a repetição de planos - caso da tomada da janela, traduzem a complexa relação entre o mundo exterior e a percepção e influência deste na vida do protagonista. Simultaneamente, a câmera de Suleiman apresenta ao espectador enquadramentos muito bonitos.

Aos poucos, somos levados à tese central do filme: a perda de identidade. Os dois momentos iniciais apresentam como as questões históricas determinaram o "desencontro" realçado nas sequências finais, com Elia já adulto. Nesta altura da narrativa, acompanhamos o olhar do personagem ao defrontar-se com a Nazaré contemporânea e com o desencontro e perda da família. Vimos também que o desconforto ante o mundo produz uma espécie de afasia.

Em O tempo que nos resta são as várias camadas e as inúmeras possibilidades de leituras que nos inquietam, nos mobilizam e acima de tudo nos fazem pensar.

RETORNO

Adiei, como sempre, a volta ao blog. Hoje estou aqui novamente. Não sei se em definitivo, mas certamente, este espaço deixará de falar de devaneios pós-adolescente e falará UNICAMENTE de cinema, teoria do cinema, literatura, intersemiose, relação entre as artes, etc. (Na realidade, advertência informativa é exclusivamente para a minha pessoa, rsrs)


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Nos últimos dois dias vi dois filmes completamente díspares e a distância entre eles me fez pensar que tipo de cinéfila eu sou. Ainda não tive acesso a auto-resposta, mas isso pouco importa.