quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A poética do espaço*

Engraçado, há quase uma semana, ando ouvindo e pensando tanto nos mineiros. No carro, o percurso diário é feito à base de Beto Guedes. Em casa, nas horas de ócio, são canções de Milton Nascimento que procuro no Youtube e nos googles da vida.

Gosto demais da poesia deles, há uma nostalgia delicada em canções tipo Maria solidária e Bola de meia, bola de gude. Acho encantador perceber a infância e a inocência sendo evocada pelos poetas e compositores. Traduz, de alguma forma, o reencontro com a origem, com a memória, com o afeto.

Agora, o que mais me encanta nos dois mineiros é a relação estreita que eles mantém com a natureza. Sobre esta questão fiquei pensando em uma tradição poética mineira que é sempre colocada e reinventada e que demonstra o quanto a terra, a geografia e o mundo natural impregnam a subjetividade desses artistas. Lembrei de Guimarães, de um certo Drummond, de Mutum de Sandra Kogut e de um documentário que assisti em abril Terra Deu, Terra Come, de Rodrigo Siqueira, acho. Na música, de cara, isso fica muito claro pra mim em Sol de primavera e o Sal da Tera, por exemplo.

Ando refletindo bastante sobre a relação entre o espaço físico, a percepção estética e a construção da subjetividade. Não tenho respostas para muitas questões, tipo: até que ponto a reflexão sobre o espaço na arte contemporânea traduz uma nova percepção e, sobretudo, possibilita novas poéticas? Talvez os possíveis caminhos para as respostas só surjam daqui a uns anos, quando a tese estiver pronta...

Mas o que queria falar mesmo é sobre este trecho da música de Bituca que reflete um pouco o meu desejo e uma certeza diante da saudade de Narinha.



Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção

O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto

A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar


* O título do post não é uma homanagem a Bachelard. rsrsrs

domingo, 15 de agosto de 2010

Balança mas não cai

O final do ano não chegou ainda, mas a sensação que tenho é que estou fechando um ciclo e aos poucos entro no meu novo ano. Agora, escrevendo, lembrei que isso pode ser pq está perto do meu niver, mas na realidade o que me motivou voltar aqui e escrever foi a tentativa de compreender tudo o que se passou, aquela velha coisa de pensar na experiência e no saldo positivo no meio do caos.

Aprendizados, choros, angústias e perdas marcaram os últimos tempos. Ao mesmo tempo reencontrei-me com uma Raquel melhor, mais espiritualizada, equilibrada e paciente. Uma espécie de protótipo do joão-bobo que foi ao chão algumas vezes, mas que por natureza tende a ficar de pé.

De todos os fracassos, o que me mais me doeu foi a morte de Nara, a minha gata-filha. Dos outros, sobraram algumas lembranças e restos de mágoas. Ainda tento elaborar e digerir alguns e espero estar livre de todos em um futuro próximo. A mudança não ocorrida, a viagem não realizada, a expectativa frustrada, os nãos cortantes, os sins que não vieram, as despedidas, os esquecimentos, nada dói mais do que ter que sentir a ausência da minha bichinha.

Desculpem a amargura ou o tom excessivamente confessional. Não estou deprimida, nem triste só vivo um momento de hiper-realismo que é preto e branco e sem som. O romantismo pós-adolescente pulou pela janela, o idealismo juvenil evaporou e a alegria infantil e descomprometida esvaiu-se, restaram o otimismo, a plenitude da proto-maturidade, o amor e meia dúzia de certezas tolas.