sábado, 3 de abril de 2010

As sutis memórias de Suleiman

O que resta do tempo é um filme que surpreende. À primeira vista, o que salta aos olhos é o componente histórico que marca narrativamente o filme. No entanto, o tom memorialístico assume a dianteira e passa a nos conduzir. Neste sentido, apesar de pautado por fatos, é a subjetividade que impregna a obra.

Os planos estáticos, a repetição de planos - caso da tomada da janela, traduzem a complexa relação entre o mundo exterior e a percepção e influência deste na vida do protagonista. Simultaneamente, a câmera de Suleiman apresenta ao espectador enquadramentos muito bonitos.

Aos poucos, somos levados à tese central do filme: a perda de identidade. Os dois momentos iniciais apresentam como as questões históricas determinaram o "desencontro" realçado nas sequências finais, com Elia já adulto. Nesta altura da narrativa, acompanhamos o olhar do personagem ao defrontar-se com a Nazaré contemporânea e com o desencontro e perda da família. Vimos também que o desconforto ante o mundo produz uma espécie de afasia.

Em O tempo que nos resta são as várias camadas e as inúmeras possibilidades de leituras que nos inquietam, nos mobilizam e acima de tudo nos fazem pensar.

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