terça-feira, 21 de julho de 2009

Abaixo aos amores burocráticos

Tá, eu não sou nenhuma Carrie Bradshaw, mas há três coisas que, confesso, gosto de falar: sexo, relação e vida alheia. E foi pensando nesta tríade que decidi escrever um pouco sobre amores burocráticos e o quanto eles são nocivos.

Amores burocráticos são aqueles em que a presença do outro é imposta e que o assujeitamento é tão latente que em todos os momentos a dois você sente a repressão e o não-afeto, ou seja, em vez de conquistar delicadamente seu espaço, o pseudo-parceiro coloniza-o, trazendo com isso tudo o que há de pior. Para tanto, sutilmente, ele impõe a sua presença durante todo o seu final de semana. Quando estão juntos, nas horas em que você conversa coisas amenas, ele tenta persuadi-la a achar, por exemplo, que o tucanato paulista é uma coisa maravilhosa. Enfim, eles são reacionários, óbvios e medíocres.

Amores burocráticos cobram ligações telefônicas diárias e satisfações de como foi o seu dia – do momento em que vc abriu os olhos até o do fatídico encontro. Essa pretensão de saber do outro respalda a insegurança e a não-compreensão do desejo alheio que em muitos momentos não apontam para ele.

Amores burocráticos passam a oprimir seus sonhos e desejos futuros pq exigem estar neles. Outro exemplo, nas primeiras semanas de namoro eles incluem-se em seus planos de viagem que ocorrerão daqui a três meses. Pra eles não existe individualidade. Ao contrário, vivem eternamente desrespeitando-a.

Amores burocráticos não têm pegada e nem despertam tesão porque tudo na relação que eles propõem soa falso, forjado. Eles não se liberam das amarras das convenções e fazem delas sua armadura, tentando defender-se da possibilidade de ser algo que não é superficial.

Amores burocráticos preocupam-se com convenções, status, para poder dar satisfação ao ego e aos olhares alheios. Eles querem mostrar ao mundo que cumpre as normas pequenas burguesas de namorar, casar, ter filhos e constituir família.

Amores burocráticos são anacrônicos, não conseguem acompanhar as mudanças de perspectivas, não entendem as novas ideias. No campo emocional, tudo o que foge do plano da segurança, tudo que cheira ao risco lhes soa indigesto.

Amores burocráticos são anêmicos e glutões. Não exploram novos ambientes. Gosto de lugares caretas e conversam sobre coisas caretas. Se alimentam da tradição e não oxigenam suas vidas com o contemporâneo, novamente, com o novo. Preferem um prato cheio aos sabores diminutos da pequena poesia cotidiana.

Amores burocráticos são carentes e isto deve-se ao fato deles perceberem-se indesejáveis no sentido mais sexual do termo. Nada neles sugere o afeto, a conquista.

Amores burocráticos são feios e vestem-se horrorosamente. Aqui também eles não ousam. Preferem vestir-se com algo que o filie a qualquer bobagem a ter que mostrar seus posicionamentos, suas convicções.

Amores burocráticos são grosseiros e mal-educados, pois não compreendem a pequena ética do afeto, da compreensão e da liberdade. Na tentativa de justificarem-se, eles evocam uma história familiar triste, um trauma antigo, mas eles esquecem que o afeto é o lugar da leveza, da plenitude e não o espaço escape da frustração.

Depois de tantas tentativas de definir os amores burocráticos, cabe-nos dizer, ou melhor, repetir, que eles são burocráticos porque seguem as regras, os padrões alheios e as convenções amorosas. Contraproducentemente, eles despertam no outro sentimentos que vão do desprezo ao asco.

Um comentário:

Filipe Pessôa disse...

Nossa, vc tocou bem no íntimo da nossa hipócrita burguesia.

F.