Ontem no meio do turbilhão de trabalhos cotidianos senti um vazio, algo como uma espécie de pesar nostálgico do espaço e do tempo agrestino que estão nas minhas melhores memórias. Ali, naquela caatinga à beira do Caiai, vivi os melhores momentos da minha infância. A cidade era minha e a possibilidade de tê-la como uma propriedade deixava-me imensamente segura.
Vivia a correr entre as suas ladeiras, a andar naquelas calçadas singelas e a sonhar escondida no carramachão. Nos altos das goiabeiras pude explorar uma perspectiva obtusa da cidade que me acolhia ante à solidão.
Há, nas minhas lembranças de Surubim, uma melancolia dolorosa que me faz descartar a sisudez habitual e me leva às lágrimas contidas. Ao perceber que a cidade não mora mais em mim, sempre que volto lá, sinto-me renovada e triste.
Aqueles cheiros pueris, as cores do casario, que já não existem mais, os sons clericais estão latentes como nunca. A onipresença da caatinga perpetuou eternamente a minha vida e hoje esta paisagem está entranhada em mim.
Existencialmente, a generosidade do tempo agrestino foi fundamental pra definir quem eu sou.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Que lindo!!
Adorei... que texto poético!
E eu que tão pertinho... e nunca fui em Surubim!!
:*
"a andar naquelas calçadas singelas... Nos altos das goiabeiras" - quem tb viveu isso, entende mt bem o q queres dizer. Ah, minha saudosa infância em Surubim! Adorei o texto, o blog.
F.
Postar um comentário