quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Les nouvelles
Estou cheia de planos.
Vamos ser todos felizes na nossa nova morada. Tenho certeza. O novo prédio fica perto de um centro espírita que irei freqüentar com mais afinco e quem sabe não passo a fazer um trabalho sistemático lá.
Há oito anos morava aqui. Cheguei uma menina. Acreditava em tantas bobagens na época. Hoje meus valores mudaram muito. Sou mais livre da influência dos meus pais, distanciei-me um pouco deles, uma distância benéfica, boa mesmo. Estou mais livre Tb.
Eita quase que esquecia de mencionar que hoje é véspera de Natal. Como estou às voltas com a mudança e arrumação de tudo, ficarei por aqui. Abdicarei da ceia com a família pra ganhar tempo. Acho que prefiro confraternizar de outra forma.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Sensações dialéticas
Como o meu objeto de pesquisa está no campo das artes, esta postura “metodológica” de avaliar tudo também se refletiu na minha relação com a música, as artes visuais e acima de tudo, literatura e cinema. Acho legal isso. Dá uma sensação boa de consciência e racionalização das coisas. E não estou me referindo ao academicismo exagerado e nem àquela erudição forçada.
A parte chata é que a pesquisa te consome de um jeito inimaginável. Além da dedicação do tempo real, cronológico, há uma ocupação subjetiva que permanece em vc todos os momentos. E quando a gente está na fase de escrever então, é uma coisa louca. Notei que algo, do ponto de vista das emoções e psicológico, foi alterado em mim. Sem contar que vivo numa angústia terrível que mistura medo da banca e o lance do compromisso produzir uma coisa legal.
Como a dissertação, ou melhor, o mestrado está onipresente na minha vida, não pude ler nada que não fosse ligado a minha área. Então, ao invés de romances, contos, poesias e ensaios críticos, que tanto gosto de ler, entraram livros teóricos sobre cinema, literatura. Troquei Guimarães e João Cabral por Ismail Xavier, Sylvie Debs e outros mais. É chato demais isso. Não nego que tenho tesão em ler livros de pesquisadores da minha área, mas o prazer da escolha é bem mais legal. Por isso, uma pilha de livros e uma lista de títulos, que cresce semanalmente, estão se formando em casa para serem contemplados no próximo ano.
Enfim, o blá blá todo foi pra dizer e justificar que não teria como indicar livros bacanas este ano pq simplesmente eles não existiram na minha vida.
Pegou colou
Ouvi, apaixonei-me, baixei os CDs, EPs e tudo mais e agora sou a fã mais ardorosa desses americanos. (Tá vendo aí? Os States ainda conseguem produzir coisas muito legais).
Som neo-folk, com letras que grudam. Formação com instrumentos que te remetem a outra dimensão anacrônica, algo tipo, outra encarnação mesmo. Impossível não ter simpatia pela sonoridade deles.
Não sei se toda vez que os escuto lembro-me de Capitu ou talvez lembro-me de Luiz Fernando Carvalho e por isso a interação e fruição diante da música do Beirut vem de graça pra mim. Foi uma grande descoberta que deixou o meu dia mais feliz.
Brincando de ser tosca
O que eu mais gosto é que eles fazem música sem nenhuma pretensão de ser brazuca. Sem aquela mesmice de evocar os Mutantes ou algum clássico do cenário eletrônico. Ser aquilo mais do mesmo. O conjunto da sonoridade deles é o oposto disso. Criatividade é um dos pontos fortes. Neste sentido, a letra de Art Bitch aponta um pouco pra isso: “I ain't no artist/ I am an artbitch/ I sell my paintings to the men I eat/ I have no portifolio/ and I only show/ Where there's free alcohol”. Sem preocupações artísticas, sem propostas estéticas vazias. Eles são feito aquelas relações que começamos sem expectativa, sem esperar nada, e de repente nos surpreendemos.
A mis en cene deles também é bacana. Como falei no post anterior. Tiração de onda, brincadeira. O look da galera é instigante. O clima descontraído não está apenas nas letras, é transmitido também no palco.
Continuando a série dos melhores do ano. Melhores discos:
Little Joy
Acabou Chorare (relançamento dos Novos Baianos)
Mallu Magalhães
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
CCS
Tenho três desejos de consumo no momento:
1) Assistir ao filme Pan cinema (sobre Wally Salomão)
2) Comprar as poesias completas de José Paulo Paes
3)Comprar o livro com textos de Ana Cristina Cesar
Estou me devendo um post sobre a minissérie Capitu.Preciso pagar, ou melhor escrevê-lo.
Faltando alguns dias pra terminar o fatídico 2008, iniciarei a série os melhores do ano.
Melhores acontecimentos
1º Viagem em julho com os amiguinhos
2º Chegada de Nara, minha gatinha
3º Enapa
4º Promoção no trabalho
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Ctrl c + Ctrl v: Euforia pré-show
DESDE PEQUENAS, uma euforia pré-show toma conta de nós quando algum evento muito importante se aproxima. Podia ser o Papai Noel de helicóptero sobrevoando o Maracanã ou o Rock in Rio 1, a que nossos pais nos levaram. E também o Rock in Rio de 2001, quando já éramos grandes e fomos sozinhas. (Atenção, se você está achando a gente velha, tudo bem, mas pense que, com o tempo, a gente acumula milhagem em shows vistos, o que é ótimo.)
Mas recentemente tivemos poucas experiências assim. Não que a gente não tenha surtado quando viu o Iggy Pop ao vivo. E não que uma de nós não tenha praticamente virado outra pessoa no show dos Beaties Boys. Mas há tempos não nos preocupávamos com ingressos histericamente e não sentíamos um frio na barriga que.. bem.. só é causado por ela, nossa querida EPS (euforia pré-show).
Até que na semana passada tudo mudou. Voltamos a sentir uma sensação estranha no corpo, a boca seca, e a falar várias vezes por dia a palavra ingresso com o fanatismo de um bofe em dia de final do Brasileirão.Tudo porque foram confirmadas duas datas de shows do Radiohead no Brasil: dias 20 e 22 de março. A euforia foi tanta que até começamos a combinar com amigos de ir para a fila antes do horário de início da venda dos ingressos, onde ficaríamos espremidas em um bolão e seríamos entrevistadas por um repórter do Folhateen que faria uma matéria sobre os "malucos que dormiram na fila do Radiohead". Desistimos dessa hipótese depois de pensar nesse mico.
Sim, vai vender pela internet, mas achamos que o site vai dar pau e ficamos muito nervosas.O mesmo nervoso que vimos os amigos fãs da Madonna passarem, enquanto ríamos do alto de nossa majestade de "garotas que não estão nem aí para a Madonna". Agora sabemos o que eles sentiram.
Sim, essa euforia pré-show é uma coisa quase incompreensível pra quem não é do rock. Nunca fomos numa micareta, mas achamos difícil acreditar que alguém fique com tanta expectativa para um show do Asa de Águia. (CONCORDO DEMAIS COM ESTA COMPARAÇÃO)
Librianizando o Natal
Talvez seja a minha formação marxista que sempre liga a data ao consumismo ou talvez meu espiríto esteja imune temporariamente às convenções. De fato, há alguns meses a dobradinha: mestrado e trabalho tem me tirado do sério.
Voltando ao Natal, esta época evoca em mim uma necessidade de balanço, de retrospectiva,... Como boa libriana que sou, gosto de racionalizar, avaliar, medir tudo e neste período as coisas ficam mais afloradas. Por isso, às vezes me recolho, fico na minha, reclusa no meu mundinho cor de rosa. Depois, ah depois, depois vai ser só festa. Casa nova, planos novos e quiçá rumos novos.
Em tempo: Eu nem toquei no assunto pelo aspecto religioso né? Aí sim, teria muito o que falar.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Bienal da vergonha
1º A pixação é crime ou forma de manifestação?
2º Até que ponto a polícia, ou melhor, a Justiça tem ingerência sobre as ações artísticas?
3º É lícito deixar uma jovem presa por quase dois meses sob a acusação de violação do patrimônio público?
4º A grafitagem é uma atividade artística?
5º Até que ponto a interatividade e relação do público com a obra de arte era uma atividade legitimada na 28º edição da Bienal?
Como vocês devem ter percebido, pelas minha proposições, o meu posicionamento em tal questão é bastante contrário à postura da polícia, da Justiça e, sobretudo, da curadoria da Bienal. Há muitas coisas implícitas na prisão e manutenção de Carolina Pivetta na cadeia. Acho que a grafitagem é uma manifestação artística contemporãnea e, portanto, a ação da jovem paulista não deve ser compreendida isoladamente e sim como uma resposta e provocação ao modelo e direcionamento político-cultural da Bienal. Neste caso, a própria proposição da Bienal, que havia colocado um espaço em branco, pode ser compreendida como uma possibilidade de interlocução com o público.
O que mais me admira é o silenciamento da curadoria, das entidades e pessoas envolvidas na questão da arte visual no Brasil. É espantoso, que um setor da sociedade considerado tão de vanguarda, no caso, as artes, fique à margem de toda a discussão e desdobramentos que o fato teve e terá.
A prisão também tem a possibilidade de outra perspectiva como, por exemplo, o que é considerado manifestação artística contemporânea e, sobretudo, como as bienais, museus e galerias ainda trazem consigo a aura medieval mesmo com toda a dessacralizaçaõ já colocada por Duchamp há quase 100 anos. Lamentável demais.
Ainda não li o artigo do Paulo Herkenhoff. Tenho certeza que ele, um dos meus críticos de arte preferidos, vai iluminar ainda mais a questão.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
lombrices
This Is Not A Love Song
Falando em música, eu queria tanto que todo mundo conhecesse Cat Power, Nouvelle Vague, Belle & Sebastian e outras... Conhecê-los iria fazer estas pessoas melhores, tenho certeza.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
ela 16, ele 30. e daí?
mas voltando ao assunto, confesso que tenho uma certa propriedade pra falar do assunto, pois já namorei carinhas mais velhos, ops bem mais velhos que eu. há um tempo namorei sério um cara que tinha, digamos, uns vinte anos a mais que eu. foi o meu máximo. mas vamos à questão: o que provoca o incomodo? o fato dela ser adolescente e ele adulto? o fato dele ter uma história profissional que ela não tem? ou fato da relação pressupor a experiência sexual que talvez ela não tenha? de fato, eu fico incomodada com estas especulações, pois todas estão baseadas em mitos e em falácias.
o namoro entre pessoas de idades diferentes é algo encantador e para mulher dá uma imensa segurança, pois pensamos que por ser adulto e ter vivido mais experiências ele não correrá o risco de cair em algumas armadilhas adolescentes como a instabilidade emocional, por exemplo. mas em contrapartida, talvez essa seja outra falácia. se a mulher for mais madura, mesmo sendo mais nova, vai ser bom também pq ela poderá ter a possibilidade de experimentar conviver afetivamente com um cara que estará na mesma vibe.
a parte delicada é que o cara mais velho traz histórias, muito maiores que ela, e que nem sempre formam o tal saldo positivo. ele também estará em outro momento da carreira profissional e neste caso, será importante ter uma certa compreensão de ambas as partes para sacar as nuances deste detalhe, como por exemplo, salário maior, ou então mais tempo de ralação mesmo, já que se está começando. qto à questão sexual, talvez, seja um ponto positivo, pois a condição de aprendiz beneficiará tanto a um qto a outro. um por se sentir mais seguro, sendo o professor e tal. o outro por poder desfrutar desta experiencia.
há que saber tb que ele pode trazer filhos e ex-mulher e se a gente não tiver predisposta a viver a história esses personagens acabam tornando-se ônus muito caros.
agora pra se viver um amor que de certa maneira foge dos padrões é preciso estar em sintonia, ter parceria não só física como emocional. tem que ter tb muita disposição para compreender o outro e isso é uma mão dupla. teria tanta coisa pra falar, mas acho que a esta altura torço para camelo e mallu, torço pela vitória das relações, das paixões, do romance.
voltarei pra falar de camelo depois.
em tempo: post inspirado depois de assistir ao vídeo no blog de carool.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
atenção: cuidado com as fontes
eu sou uma eterna admiradora e deslumbrada por todas as possibilidades que a internet traz, mas tem uma coisa que realmente me incomoda na web, ou melhor, no correio eletrônico, são os textos atribuídos a pessoas que não os escreveram. existe um verdadeiro compêndio de textos de drummond, fernando pessoa, clarice lispector... não precisa ser especialistas nestes autores para sacar que os ditos textos não são de suas autorias.
o mais bizarro nisso tudo é que as pessoas passam a apropriar-se destes falsos textos em seus orkuts, distribuindo-os para seus contatos na net e achando que estão dando pinta de inteligentes e intelectuais. tenha dó. quem conhece clarice sabe que ela não ia se ocupar em escrever definições bobas, de auto-ajuda. ao contrário, sua escrita revela uma densidade profunda, cortante até mesmo nas coisas prosaícas. a mesma coisa drummond que tenho certeza que não falaria do amor com o tom da pieguice, de lugar comum. então, quando quisermos utilizar os nossos escritores é melhor irmos à fonte, ou seja, suas obras, para não cairmos no conto do vigário e proclamarmos a ode aos textos falsos.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
New Orleans não saí de mim
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Março com Thom Yorke
notícia boa pra alegrar o dia. ;)
Segue a matéria da Folha Online explicando tudo.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u472214.shtml
síndrome da mestranda pré-banca
nunca pensei que um mestrado fosse tão assustador. sei lá, mas a responsabilidade de estar lá, de escrever coisas legais, de ser criativa tem um peso enorme. quando entrei achei que ia ser moleza pois nos últimos quatro anos tinha me dividido entre duas faculdades simultaneamente. mas não é e não foi light fazer mestrado e trabalhar não. foi punk rock. fora que experimentei uma sensação aguda de burrice crônica pelo que não tinha lido. em letras já era uma coisa meio assim, a gente sempre ficava com a impressão de que nunca ia chegar a ter a erudição de fulano ou dos nossos colegas e tal, mas agora o negócio é ainda mais sério, pois somos todos profissas.
enfim, como sou sádica demais vou continuar me fudendo na academia por pelo menos mais uns quatro anos, no mínimo.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
coeur vagabond
pra entender um pouco mais do universo que envolve estas bobagens escritas aqui, basta prestar atenção a esta música:
Ipod
Por mais nacionalista que eu seja, depois de conhecer Nina Simone não posso me furtar de dizer que a música americana, especialmente o jazz e o blues, é a melhor de todas.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Arrependimento
Conheci La Negra através de Milton Nascimento, gostei da voz dela e só tempos depois foi que soube da sua atuação política. Depois de saber disso, passei a admirá-la ainda mais. Gosto do timbre da sua voz, do seu repertório e pude através dela conhecer o trabalho da multiartista chilena Violeta Parra. Quem não a conhece não sabe o que está perdendo.
Espero assistir Mercedes Sosa em breve e de preferência em Buenos Aires.
É por Mercedes Sosa, Borges, Cortázar, Lucrécia Martel e outros que gosto demais da Argentina.
Acho um pouco bom
Então essa música da Cansei de ser sexy diz tudo. Depois eu volto pra falar da banda.
sábado, 22 de novembro de 2008
Belle & Sebastian
Conheci de perto a banda há pouco tempo e confesso que no momento é o meu grupo preferido. Considero as letras fofas e a sonoridade bem interessante. Gosto da formação numerosa do B&S com sete músicos fixos e sempre mais alguns de apoio. Outro detalhe é a mistura de violino, com guitarra, bateria, trompete e teclado, tudo isso com uma influência que mistura rock com soul e umas pegadas nórdicas e tal.
As impressões que tenho quando ouço o grupo escocês são as melhores possíveis. As músicas aludem a um sentimento bobo a uma coisa bem adocicada mesmo. Lembro que uma amiga me disse que escutava B&S quando estava stressada, comecei a fazer isso também e hoje estes escoceses também surtem um efeito terapêutico na minha vida. Tenho todos os CDs do deles e já gravei a discografia pra várias amigas. Virei bellemaníaca.
Os álbuns que mais gosto são Tigermilk, Jonathan David e You are feeling sinister. No entanto, o que mais escuto é um cd gravado em Tokyo em 2001. Esse foi inclusive o ano que eles estiveram no Brasil – vieram participar do Free Jazz Festival. Eu não fui ao show, portanto, espero encontrá-los ao vivo rapidamente, apesar de saber que desde de o final de 2006 eles não fazem apresentações.
Termino com as considerações do Álvaro Pereira Júnior, da Folha de São Paulo, sobre a banda: Um mundo onde o cordeirinho e o leãozinho são amiguinhos. Onde todos dançam alegres, em fofura comunal. Onde não existe a guerra, só o amor, o amor. Belle and Sebastian, a banda escocesa, (...), vive em um lugar assim". (FSP, outubro de 2001)
DUAS DAS MÚSICAS DELES QUE MAIS AMO:
If you're feeling sinister
There's too much love
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
A causa de acessibilidade - parte I
Foi pensando assim e com o ímpeto de mudar o mundo, que só a adolescência nos proporciona, que envolvi-me num projeto bem bacana há oito, nove atrás. Era a época do meu vestibular e pela primeira vez na minha vida as coisas não tinham saído como eu esperava, ou seja, não passei no vestibular de Direito como pretendia. Diante do baque e com a ajuda da minha mãe, pensei o seguinte: se para mim que sempre estudei nos melhores colégios e sempre tive acesso aos melhores produtos da educação era difícil, imagine para quem vem de escola pública?
Foi naquele momento que pensei que a minha derrota (sim pq aos 17, 18 anos o seu grande sonho na vida é entrar na faculdade) poderia ser sublimada e proveitosa se eu a transformasse em algo bom para outras pessoas. Foi assim, que eu e uma amiga, que havia passado três anos no martírio das reprovações do vestibular, decidimos criar um cursinho pré-vestibular gratuito para os alunos de baixa renda (a maior parte era de escola pública e tinha renda familiar de um ou no max dois salários mínimos) do nosso bairro. Instalamos o cursinho no centro espírita que freqüentamos, chamamos nossos amigos para serem professores e em menos de um mês estávamos inscrevendo os nossos novos alunos. Eu dava aulas de Literatura. Havia uns 12 professores e uns 25 alunos. Rapidamente criamos um grupo tão coeso e fraterno que muitos daqueles alunos são meus amigos até hoje. Nós éramos jovens, burgueses e idealistas. Nunca havíamos dado aula de nada, mas tínhamos um envolvimento tão grande com o projeto que tenho certeza que a nossa imaturidade não influiu de forma nenhuma na qualidade do cursinho.
Como eu era a que morava mais perto do local, fui nomeada coordenadora do grupo. Fazia de tudo, ligava para os professores, tapava buracos, organizava as reuniões. Os nossos professores eram muito bons. Lembro de alguns que, impossibilitados de dar aulas durante a semana por causa da faculdade ou de outros compromissos, vinham dar aulas aos domingos, às 8h e o mais impressionante de tudo era que os professores deste dia moravam a 25 km do local, ou seja, cruzavam a cidade para chegar.
Foi durante aquelas aulas que descobri e confirmei a minha vocação para sala de aula e que em vez de Direito e Jornalismo, deveria fazer Letras e Jornalismo. Isso foi um dos maiores acertos da minha vida. Nas aulas eu também aprendia muito. Aprendia sobre o mundo vizinho ao meu, mas que era completamente desconhecido aprendia sobre tudo. Crescia demais. E eles nos agradeciam pela possibilidade de sonhar com uma universidade e diziam-nos que eles iriam multiplicar aquela experiência.
Hoje parte deles está se formando ou já estão formados. Passaram na Universidade Federal de Pernambuco, são biólogos, assistentes sociais, historiadores, pedagogos, contadores e artistas plásticos. Tenho orgulho de todos. E falo sobre isso pq sei que eu e aqueles professores fomos pequenos instrumentos diante da vitória que significou a profissionalização na vida deles e, sobretudo, que nosso ganho pessoal foi muito maior.
Talvez poucas pessoas imaginem a dimensão daquela época pra mim. Mas tudo ali, mudou definitivamente a minha existência.
P.S. 1: No ano da fundação do GEP (Grupo de Estudos Pestalozzi, que tinha tb como slogan: ampliando horizontes) eu passei em Letras e Jornalismo. Foi o ano que menos estudei na vida, pois dedicava-me integralmente ao GEP.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Qual a sua relação com o cinema?
Até entendo de alguma forma esta proto-compreensão que os espectadores têm do cinema. Sendo a arte cinematográfica filha legítima da sociedade burguesa moderna é natural que a atrelemos como algo ligado exclusivamente à diversão. No entanto, a construção de códigos e linguagens específicas fez com que o cinema subverta a lógica dos meios de comunicação de massa, portanto, a possibilidade de fruição que existe diante de um filme pode ser muuito mais interessante do que supomos. Neste sentido, há alguns filmes que são emblemáticos nesta tentativa de possibilitar experiências artísticas. De cara, poderia citar um monte, mas que tal Acossado, Band a part, A chinesa? Claro que os títulos são todos godardianos pq ele é a síntese desta proposta de cinema-experiência. Mas há ainda outros filmes que são interessantes e que vão nesta direção: gosto de cereja e irreversível. Cada um de um modo diferente. No entanto, eles não são emblemáticos pra mim, considero-os apenas interessantes, nada mais.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Boas novas
Gosto da pegada new folk dela. Tem também o lance dela ser parceira do Marcelo Camelo que tb considero um grande compositor e músico. O timbre da voz dela diz tudo: há uma doçura no ar. Talvez ela mude com o passar do tempo, mas as minhas sensações diante das suas músicas continuarão as mesmas.
Em tempo: tento conhecer a produção das novas gerações pq senão fico totalmente out entre as adolescentes que converso. Também gosto de ouvir coisas novas pq sempre surgem grandes surpresas como a Mallu Magalhães.
domingo, 16 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
O Radiohead vem aí, eu vi
Confesso que estou numa fase totalmente Radiohead e na última semana coloquei todas as músicas de In Rainbows no meu ipod. Muito bom este álbum. Pra mim ele está só um pouco abaixo de Pablo Honey, Ok Computer e Kid A. All I need e Nude são as duas faixas que mais me chamam atenção. Além das músicas, gostei também da estratégia de lançamento do disco, que deixava livre para os internautas o preço do valor que devia ser pago para o download das faixas.
Tenho amigas que quando entram no meu carro e escutam Radiohead dizem que o som da banda deixa deprimidas. A música deles me remete a outras sensações, bem distantes da depressão. Thom Yorke e Cia. pra mim são perfeitos com seus acordes dissonantes, suas experimentações e letras cool. Não sei, mas por tudo isso, acho que pra minha geração, ou seja, aqueles que nasceram nos primeiros anos da década de 80 e começaram a consumir música na metade da de 90, o Radiohead fala muito mais do que Madona, mesmo sendo ela um ícone pop e tal. Gosto da Madona, mas vou pro show Radiohead.
O Radiohead lembra-me a Alemanha e o cosmopolitismo de Berlim. Às vezes, esqueço que eles são ingleses.Na verdade, ligar o grupo aos germanos deve-se ao fato de eu ter conhecido a banda na época que me apaixonei por um alemão que foi morar no meu prédio. Era 2003/2004 época de Hail To The Thief e There, there foi a nossa música. Nunca havia me envolvido por um estrangeiro e aquela paixonite tinha grandes contornos de exotismo e curiosidade. Foi tudo muito curto. A partir deste flerte passei a ver a Alemanha com outros olhos, comecei a estudar alemão e a sonhar em morar lá. Quando ele foi embora, chorei horrores. Vivi a maior fossa, detalhe: sem nunca tê-lo beijado. Esta é a melhor parte. J
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
A literatura como militância
Compreendo que o momento histórico é outro e que as tecnologias da informação possibilitaram um novo tipo de relação com o texto artístico, modificando também a aura da literatura. Portanto, acredito que defender a Literatura na contemporaneidade é uma atividade política, uma militância. Lembro neste sentido, que me sentia exemplarmente engajada quando falava aos meus alunos sobre a arte literária, com suas especificidades, riquezas e escritores geniais.
Eu tentava passar pra eles minha paixão e todas as emoções que vinham dela. Eles eram burgueses (a Universidade era Federal, grande concentração de renda e tal) e haviam nascido nos últimos dois anos da década de 80. Em alguns momentos sentia uma certa resistência entre os estudantes de publicidade que acreditavam presunçosamente que a publicidade era superior a todas as outras expressões. Outros de jornalismo e radialismo também resistiam um pouco, talvez pq para eles a internet e o cinema eram superiiores também. No entanto, em vários momentos ficava profundamente tocada quando percebia em cada expressão o detalhe que revelava a curiosidade e o encantamento diante do texto. Em uma das aulas, cheguei a chorar quando vi que a poesia expressa nos textos de Raduan Nassar tinha de alguma forma modificado o contato daqueles alunos com a Literatura. Era Lavoura Arcaica. Foi lindo.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
reflexionices
domingo, 9 de novembro de 2008
pseudo-musicologismos
A outra “experiência” musical foi assistir Saravah no sábado passado, dia 1, durante a a mostra. Sei lá, quando a gente vai mostrar a outras pessoas uma música, livro ou filme que vc é apaixonado fica sempre aquela sensação meio estranha de saber se o seu tal obj. de veneração tocou tanto o outro como toca vc. No caso de Saravah, nem gosto tanto do filme assim, mas aqueles personagens são muito significativos pra mim. Aí, perceber que no meio da sessão as pessoas estavam tão envolvidas pela proposta que cantavam junto foi bem tocante pra mim. Fiquei comovida. Mas voltando ao filme, depois de assisti-lo fica aquela sensação de que nasci na geração errada ou que aquela geração era bem melhor. O filme é um documentário de francês, Pierre Barouh, que, encantado pela Música Popular Brasileira, vem ao Brasil filmar ícones como Bethânia (que aparece linda, supernovinha), Pixinguinha, João da Baiana e o lindíssimo Paulinho da Viola. Então, a partir do encantamento e da possibilidade de conhecer a nossa MPB ele senta com a galera no bar, toma cerva e aí os nossos orgulhos nacional começam a cantar lindas canções. Tudo tão lindo, perfeito. Referi-me apenas à música, pois o filme tem lá minhas ressalvas.
Eu sempre fui muito atraída pela música, tudo como leiga, claro. Na música não consigo racionalizar nada. Apenas sinto e ela me faz tão bem. Tenho uma música pra cada momento da minha vida, cada paixão, cada sensação. Para os meus últimos amores, por exemplo, dediquei silenciosamente canções da banda Nouvelle Vague e Belle & Sebastian, respectivamente. Tive um namorado antigo que depois de acabarmos tive que suspender temporariamente do meu Ipod Zeca Baleiro e Vanessa da Mata, pois ouvi-los me fazia reviver cada frase, cada gesto que àquela altura soavam-me extremamente doloroso. Hoje, retomei o Zeca e abandonei a Vanessa.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Nas coxas também é bom
Lembro, por exemplo, que há dois anos, quando conclui o curso de Letras, tive que fazer a monografia final em um mês praticamente. Loucura total. Agora tenho uma qualificação para até o final do mês e neste caso terei que escrever...umas 40 páginas.
Vai ser nas coxas né? Agora, apesar de tudo, nas coxas também é bom. Como falava um ex-chefe meu: dá prazer e faz menino. hehehhe
domingo, 2 de novembro de 2008
no batente
sexta, sábado e domingo de plantão e sem direito a folga na segunda. hehehe.
adoro.
quem mandou brincar de ser curadora de cinema. mas no fim, depois de tudo, dá um baita prazer.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
O dia que conheci Chico Buarque
Aos onze anos, num dezembro qualquer da década de noventa, gravei no rádio gravador do meu avô um especial com músicas de Caetano e Chico. Naquela época, esses nomes não me diziam nada. Talvez eu já os tivesse ouvido em alguma conversa musical dos meus pais, mas não lembro de os ter conhecido. Recordo-me que por falta de opção a gravação foi feita numa fita antiga que vinha com o Meu Primeiro Gradiente, aquele gravadorzinho que fazia karaokê e era vermelho. Tempos depois, deparei-me com a fita e tudo mudou.
Não sei explicar, mas ouvir Caetano com sampas, chuvas, suores e cervejas, leaozinhos, odaras... e Chico com as bandas, cálices, trocando em miúdos modificaram-me definitivamente. Naquele momento, o senhor dos olhos ardósia me cativou mais. Fiquei apaixonada.
Consegui com um vizinho mais velho todos os seus LPs e aos poucos ia fazendo a minha audioteca buarqueana. Colecionei quase todas as músicas. Juntei o dinheiro que meus pais me davam para o lanche e comprei por telefone uma biografia do compositor de Samba do grande amor. Lembro que por essas coincidências da vida, o livro de capa bege chegou no dia 19 de junho. Rapidamente devorei o livro e virei uma fã incondicional. Estava no início da adolescência e escolhi o Chico para ser o meu ídolo. Sonhava, suspirava por ele. Recortava suas fotos que encontrava nas revistas, fazia o meu dossiê CB. Sabia quase todas as suas músicas decoradas e elegia cada uma delas para certos momentos da minha vida. No entanto, havia uma composição que eu jurava de pés juntos que ele tinha feito pra mim: Sentimental.
Meus amigos e minha família sabiam daquela paixão pueril. Meus pais orgulhosos, de alguma forma, alimentavam-na. Falar de Buarque funcionava pra mim como um passaporte para o mundo dos adultos. Eu era considerada mezzo prodígio, mezzo estranha por idolatrar um cara que não era da minha geração.
Um dia, ele veio ao Recife. Era a turnê de As cidades. Fiquei completamente inebriada com a sua presença física a poucos metros de distância. Estava de férias no interior e viajei 130 km para assisti-lo. Como fui feliz aquela noite. No outro dia chorei horrores, pois as fotos que havia tirado queimaram.
Hoje revivendo este encontro afirmo que sem sombras de dúvidas minha vida não foi mais a mesma depois de ouvir aquela fita transparente. Apaixonada, na tentativa de compreender e de saber sobre o universo e sobre a biografia do meu amor fui deparando-me com nomes que foram fundamentais para a minha formação intelectual. Um desses nomes foi o do seu pai, Sérgio Buarque de Hollanda. Aos 15 anos, li Raízes do Brasil. Entendi pouca coisa, mas a reflexão sócio-histórica do livro ficou. Depois conheci Rubem Fonseca, ex-sogro da sua filha Sílvia. Outro caso de paixão. Li inúmeros livros do mestre da literatura policial brasileira e nunca mais deixei de tê-lo como referência. Aos poucos, encontrava Dostoievski, Tolstoi (os dois escritores eram referencias pra ele na adolescência tb), João Cabral, Manuel Bandeira (compadre de seu pai), Vinicius.
Cheguei à Bossa Nova e foi outra revolução. Agora meu coração era dividido entre Buarque e Tom. Com Chico além de música e literatura, descobri cinema, política, filosofia e muitas outras coisas que hoje fazem parte de mim.
Como as verdadeiras paixões, passou. Ficou a sensibilidade poética, a memória das suas músicas e as recordações que saem delas. Hoje tenho algumas ressalvas em relação às construções e idealizações que o cancioneiro buarqueano projeta.
Em tempo: ainda há algumas coisas que Francisco me possibilitou. Relato posteriormente. Depois tb falarei do efeito Caetano na minha vida.
Palavras retóricas
“Precisando é só ligar”,
“Te ligo amanhã”
“Vamos marcar de nos encontrar?”
“Poxa, quantas saudades...”
Até quando lançaremos mãos de frases retóricas jogadas ao ar sem quaisquer compromisso com a verdade, ou melhor, com a realidade?? Sabe quando você encontra aquela pessoa que você não vê há séculos e ela enuncia algo do tipo: vamos marcar pra conversar, precisamos botar a fofoca em dia. No entanto, tanto você quanto ela sabem que esta afirmativa é tão inverossímil quanto as novelas de Manoel Carlos, que eu amo. Já passei por diversas situações parecidas como aquelas em que vc dá carona a um amigo e ele te chama pra subir pra casa dele na hra da despedida.
Se essas coisas me acontecessem há um tempo atrás eu ficaria um tanto quanto incomodada por estas atitudes meio.... deixa pra lá. Na terapia tentei segurar a onda e diminuir a exigência em relação aos outros. “Aprendi”. Mas vez por outra, fico meio emputecida de ouvir estas palavras que as pessoas jogam ao léo. Sabe pq? Pq elas atestam um certo descompromisso com o outro e, radicalizando, com a verdade. Eu mesma já cometi essa “gafe” várias vezes, hj me policio. Tento prometer apenas aquilo que posso cumprir. Mesmo que demore um pouco, eu sei.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Oito horas por dia
A incongruência das benditas 8h diárias reside no fato que sendo assim, não há o tempo para o ócio criativo, para o aprimoramento... se eu fosse conversar isso com algum amigo marxista ele diria que esta é a lógica do sistema capitalista. O burguês suga todas as suas energias para que você não possa ter consciência da sua situação opressiva e para que você não tenha a possibilidade de ascender. Acho que tou começando a concordar e o que é pior, o sistema já me engoliu. E agora, o que farei?
Em tempo: sempre achei que os meus melhores momentos são aqueles em que fico sem fazer nada, preguiçando, pensando e tal. São neles que me encontro, imagino, sonho e, sobretudo, aprendo.
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Andar de ônibus
Fora que quando você está ao volante esquece de olhar a cidade e as pessoas. E isso é tão problemático. Prefiro o olhar do turista, do encantamento. Não quero deixar de ser seduzida pelas pontes e pelas geografias humanas desenhadas nos rostos dos transeuntes e dos passageiros de ônibus.
Outro ponto que contribui para que eu escolha conscientemente utilizar os transportes públicos é a questão da minha profissão. Mesmo que hoje eu esteja assessora de imprensa não posso perder de vista a sensibilidade e o espírito jornalísticos. E partes deles surgem com o contato, com o transitar...
Andar de ônibus é fundamental para a sobrevivência de uma parte de mim que, por vezes, distancia-se.
Há oito anos vivo confinada dentro do meu carro sem ter a exata noção do que sou ou do que era a minha cidade. Perdi a capacidade contemplativa. Lamentável.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
A crise do depois dos 25
1. odeio a ditadura do cabelo lisérrimo; já submeti-me às escovas progressivas da vida, uma única vez confesso, mas hoje não faria mais isso. Acho uó quem vive em função dos parâmetros alheios. Prefiro o meu cabelo liso-indefinido, ao natural mesmo.
2. também desencanei desta coisa de viver com dez quilos a menos que a sua altura. Estou bem com os meus 64 kg / 1,71 m. Detesto tb este lance da obrigatoriedade de fazer exercícios físicos. E aquele lance do eterno regime feminino? Não gente, acho tudo isso insuportável. Não é um manifesto pró-obesidade, mas acho que devemos nos curtir sem neuras e sem auto-violações saca?
3. descartei também o lance de colocar silicone. Ainda bem que me conscientizei antes de fazer a merda.
4. aquela história que a gente tem que tá sempre bonitinha, arrumada e com um cara maravilhoso ao lado ninguém merece né? Eu adoro maquiagem, roupa, sapato e perfumes, mas sem o lance da obrigatoriedade, sem essa de “ter que estar”. Já quanto ao bonitão, é bom tê-los por perto, mas com paixão, parceria e disponibilidade. Sem estes itens as coisas não valem a pena, ficam meio fakes.
5. outra falácia que pensei foi a da eficiência da mulher multifunções (mãe, dona-de-casa, profissional exemplar, boa companheira e amante). Esta é a mais opressora de todas. E parte dos nossos problemas estão resumidos aqui. Aos poucos, tenho tentado eximir-me das culpas ao mesmo tempo em que deixo de acreditar em heroínas. Não é um processo fácil, pois desde sempre fui programada para desempenhar todas estas atividades (leia-se bonecas, casinhas, boas escolas, bons empregos, príncipes encantados, manuais de sexo).
Talvez tudo eu que disse seja muito clichezão. Todo mundo já tenha falado isso milhões de vezes e tal. Mas completar 26 anos permiti-me tb caminhar por lugares conhecidos, apropriar-me de discursos alheios sem a pretensão de ser original e genial. Há ainda alguns outros aspectos que giram em torno da proximidade dos trinta. Eles são mais subjetivos, mais íntimos, no entanto, ainda não consegui identificá-los
Desabafo
No sábado, às 7h15 recebo um telefonema de um agente da PRF. Encontraram o bendito carro. Roubaram todo o que podiam bateria, pneus, extintor... Tudo terminou.
Mas ficou aquela sensação estranha, descrença. Espero que passe.
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Confessei a minha experiência pra poder refletir sobre a segurança pública e sobre a violência, ou melhor, o estado de violência que vivemos.
A quem devemos recorrer? A ineficiente polícia civil que, como todos sabemos, é sucateada, desonesta, recebe baixos salários, não tem infra-estrutura, não consegue dar conta da demanda,...
O pior é que somos conscientes de tudo, mas a ficha só caí quando precisamos do seus serviços. Na realidade, a classe média, vive numa pseudo-blindagem, uma suposta tranqüilidade.
Agora, luto para não mudar meus hábitos, para não entrar na paranóia de que serei a próxima vítima a qualquer momento.
Na realidade, a impunidade está em todos os lugares, ela é a quase sinônimo do meu país. Infelizmente.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
A partida
A partida
Osman Lins
Hoje, revendo minhas atitudes quando vim embora, reconheço que mudei bastante. Verifico também que estava aflito e que havia um fundo de mágoa ou desespero em minha impaciência. Eu queria deixar minha casa, minha avó e seus cuidados. Estava farto de chegar a horas certas, de ouvir reclamações; de ser vigiado, contemplado, querido. Sim, também a afeição de minha avó incomodava-me. Era quase palpável, quase como um objeto, uma túnica, um paletó justo que eu não pudesse despir.
Ela vivia a comprar-me remédios, a censurar minha falta de modos, a olhar-me, a repetir conselhos que eu já sabia de cor. Era boa demais, intoleravelmente boa e amorosa e justa.Na véspera da viagem, enquanto eu a ajudava a arrumar as coisas na maleta, pensava que no dia seguinte estaria livre e imaginava o amplo mundo no qual iria desafogar-me: passeios, domingos sem missa, trabalho em vez de livros, mulheres nas praias, caras novas. Como tudo era fascinante! Que viesse logo. Que as horas corressem e eu me encontrasse imediatamente na posse de todos esses bens que me aguardavam. Que as horas voassem, voassem!
Percebi que minha avó não me olhava. A princípio, achei inexplicável ela fizesse isso, pois costumava fitar-me, longamente, com uma ternura que incomodava. Tive raiva do que me parecia um capricho e, como represália, fui para a cama.
Deixei a luz acesa. Sentia não sei que prazer em contar as vigas do teto, em olhar para a lâmpada. Desejava que nenhuma dessas coisas me afetasse e irritava-me por começar a entender que não conseguiria afastar-me delas sem emoção.Minha avó fechara a maleta e agora se movia, devagar, calada, fiel ao seu hábito de fazer arrumações tardias.
A quietude da casa parecia triste e ficava mais nítida com os poucos ruídos aos quais me fixava: manso arrastar de chinelos, cuidadoso abrir e lento fechar de gavetas, o tique-taque do relógio, tilintar de talheres, de xícaras.Por fim, ela veio ao meu quarto, curvou-se:— Acordado?Apanhou o lençol e ia cobrir-me (gostava disto, ainda hoje o faz quando a visito); mas pretextei calor, beijei sua mão enrugada e, antes que ela saísse, dei-lhe as costas.Não consegui dormir. Continuava preso a outros rumores.
E quando estes se esvaíam, indistintas imagens me acossavam. Edifícios imensos, opressivos, barulho de trens, luzes, tudo a afligir-me, persistente, desagradável — imagens de febre.Sentei-me na cama, as têmporas batendo, o coração inchado, retendo uma alegria dolorosa, que mais parecia um anúncio de morte. As horas passavam, cantavam grilos, minha avó tossia e voltava-se no leito, as molas duras rangiam ao peso de seu corpo. A tosse passou, emudeceram as molas; ficaram só os grilos e os relógios. Deitei-me.Passava de meia-noite quando a velha cama gemeu: minha avó levantava-se.
Abriu de leve a porta de seu quarto, sempre de leve entrou no meu, veio chegando e ficou de pé junto a mim. Com que finalidade? — perguntava eu. Cobrir-me ainda? Repetir-me conselhos? Ouvi-a então soluçar e quase fui sacudido por um acesso de raiva. Ela estava olhando para mim e chorando como se eu fosse um cadáver — pensei. Mas eu não me parecia em nada com um morto, senão no estar deitado. Estava vivo, bem vivo, não ia morrer. Sentia-me a ponto de gritar. Que me deixasse em paz e fosse chorar longe, na sala, na cozinha, no quintal, mas longe de mim.
Eu não estava morto.Afinal, ela beijou-me a fronte e se afastou, abafando os soluços. Eu crispei as mãos nas grades de ferro da cama, sobre as quais apoiei a testa ardente. E adormeci.Acordei pela madrugada. A princípio com tranqüilidade, e logo com obstinação, quis novamente dormir. Inútil, o sono esgotara-se. Com precaução, acendi um fósforo: passava das três. Restavam-me, portanto, menos de duas horas, pois o trem chegaria às cinco.
Veio-me então o desejo de não passar nem uma hora mais naquela casa. Partir, sem dizer nada, deixar quanto antes minhas cadeias de disciplina e de amor.Com receio de fazer barulho, dirigi-me à cozinha, lavei o rosto, os dentes, penteei-me e, voltando ao meu quarto, vesti-me. Calcei os sapatos, sentei-me um instante à beira da cama. Minha avó continuava dormindo. Deveria fugir ou falar com ela?
Ora, algumas palavras... Que me custava acordá-la, dizer-lhe adeus?Ela estava encolhida, pequenina, envolta numa coberta escura. Toquei-lhe no ombro, ela se moveu, descobriu-se. Quis levantar-se e eu procurei detê-la. Não era preciso, eu tomaria um café na estação. Esquecera de falar com um colega e, se fosse esperar, talvez não houvesse mais tempo. Ainda assim, levantou-se. Ralhava comigo por não tê-la despertado antes, acusava-se de ter dormido muito. Tentava sorrir.
Não sei por que motivo, retardei ainda a partida. Andei pela casa, cabisbaixo, à procura de objetos imaginários enquanto ela me seguia, abrigada em sua coberta. Eu sabia que desejava beijar-me, prender-se a mim, e à simples idéia desses gestos, estremeci. Como seria se, na hora do adeus, ela chorasse?
Enfim, beijei sua mão, bati-lhe de leve na cabeça. Creio mesmo que lhe surpreendi um gesto de aproximação, decerto na esperança de um abraço final. Esquivei-me, apanhei a maleta e, ao fazê-lo, lancei um rápido olhar para a mesa (cuidadosamente posta para dois, com a humilde louça dos grandes dias e a velha toalha branca, bordada, que só se usava em nossos aniversários.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Acabrunhada
No momento, estou sem esperanças no meu país. Espero que seja uma sensação momentânea, algo passageiro, reflexo dos últimos acontecimentos. Estou assim desde que a minha pseudo-segurança pequeno burguesa foi colocada em xeque. Isso mesmo, entrei para os índices das vítimas da violência urbana e há nisso tudo diversas nuances. Há sentimentos, frustrações e incertezas. Por isso, desabafarei.
A noite do dia 11 de outubro de outubro pra mim foi meio adversa. Fui assaltada quando chegava em casa com meus pais. Estávamos no nosso prédio e um sujeito que apareceu do nada, apontou uma arma pra minha cabeça, engatilhou o revólver pra minha mãe, levou o meu carro, minha bolsa, meus documentos. Até aí “tudo bem”. São apenas perdas financeiras, mas houve também perdas afetivas e emocionais. Estava no carro um diário da minha mãe que tinha no mínimo 50 anos de existência. Lembro de alguns momentos encontrá-la lendo o que seu pai havia escrito. Era uma forma de torná-lo presente, vivo. Havia também dois vestidinhos meus da época em que era bebê. Eles eram lembranças para mostrar aos meus filhos, pois foram as minhas primeiras roupinhas. Já as perdas emocionais são algumas: uma sensação de insegurança, impotência,...
Na realidade, narrei este episódio para poder falar sobre a violência urbana e como ela esta sendo naturalizada entre nós. Duas coisas me vêm à cabeça: a minha experiência como repórter policial e o contador do pebodycount que vejo todos os dias. Como repórter, eu sempre tentava distanciar-me de alguma forma, uma coisa pra se proteger emocionalmente e tal. Na verdade as vidas e as dores, viravam personagens, noticias, histórias, leads... Se na época eu já achava tudo uma merda, agora distante temporalmente daquilo ali, aí é que me incomodo mesmo. Quanto ao PE Body Count, site feitos por uns colegas jornalistas e que tem um contador sobre os números da violência no estado, todo dia eu passavam em frente ao contador e via sem muito espanto os números de homicídios que sempre ultrapassavam uma dezena. O impressionante nas duas experiências é que as estatísticas e leituras jornalísticas e sociologizantes cediam lugar a algo que é muito maior. Algo que envolve subjetividades como comportamentos, escolhas, emoções, saúde...
Uma outra observação.O que mais ouço desde do dia do assalto é “graças a Deus estão todos bem” ou “podia ter acontecido algo pior”. Concordo com o principio das duas sentenças, no entanto, acho que quando colocamos as coisas desta forma estamos nos adaptando a uma situação inadaptável, algo que não pode ser visto de uma forma tão prosaica. Graças a Deus que eu saí ilesa sim, mas não posso sentir-me aliviada. E o discurso que evoco aqui não é o da materialistasinha ou da burguesinha que só pensa em grana e que despertou pra realidade social agora. Eu tou pensando que de repente o meu vizinho que mora na favela ao lado está gritando pra mim que não existe Estado, segurança pública e que eu vivo na terra de ninguém. Sim, pq uma semana depois do meu assalto, foi a vez da minha prima que estava chegando na casa da minha tia que mora uma rua depois da minha. Ela teve mais sorte, a gasolina do carro dela acabou e o automóvel foi encontrado; E o que é pior, ontem um senhor não sei de onde liga pra mim e diz que foi assaltado na minha rua, cerca de 100 metros da minha casa, e que o carro que foi utilizado para o assalto era o meu. J Parece piada né? Mas não é. Quando fui à delegacia fazer o B. O. encontrei uma delegacia caindo aos pedaços, não tinha cadeira pra sentar e um funcionário puto que amargamente dizia-me: no meu plantão de hoje, que ainda está na metade, o seu carro é o 15º automóvel roubado. Lembrando só que era uma delegacia de plantão de um bairro classe média. Sei não viu?
Diante deste quadro dantesco, lembrei de uns colegas do curso de francês que apesar da vida estabilizada aqui no Brasil, decidiram migrar para o Canadá em busca de um pouco mais de segurança e de um Estado eficiente. Não sei se pra mim a migração seria uma possibilidade viável. Eu acreditava tanto em tudo isso aqui.
Sei lá, comecei
Espero ter sempre o que contar. Sejam todos bem-vindos.
Ahh, ia esquecendo, há muito tempo tentei fazer este tipo de “exercício” no fotolog, mas achei que o suporte ia aquém das minhas necessidades proto-filoliterojornalisticoexistenciais; tudo ali soava-me meio raso.
P.S. Créditos para Juju Dutra miga maga mestra para assuntos webísticos.